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Infinitivo flexionado
Este tema não é dos mais simples entre
os fatos gramaticais da língua portuguesa. O
infinitivo é forma nominal do verbo e pode apresentar-se
nas modalidades flexionada e não-flexionada.
(Veja o verbete "Infinitivo"
no Glossário Gramatical.) Alguns autores adotam,
para essas formas, a nomenclatura de infinitivo pessoal
e impessoal. O prof. Hermínio de Campos
Mello contesta esse uso alegando que tanto o infinitivo
flexionado como o não-flexionado são pessoais,
ou seja, referem-se a alguma pessoa gramatical. O mestre
parece ter razão quando se empregam flexões
como "Vou caminhar amanhã",
"Ela vai caminhar amanhã" ou
"Todos vão caminhar amanhã".
Nestes exemplos, embora em sua forma não-flexionada,
ou seja, "impessoal", o infinitivo relaciona-se
sempre a uma das pessoas gramaticais.
O infinitivo flexionado é idiomatismo da língua
portuguesa, ou seja, é fenômeno característico,
típico de nossa língua, embora não
seja exclusivo dela. Tudo indica que se originou do
imperfeito do subjuntivo latino (hipótese de
José Maria Rodrigues) e já aparece no
primeiro documento conhecido escrito em língua
portuguesa, a "Cantiga da Ribeirinha" (veja
a pág. Você
sabia? n.º 13), como se pode ver abaixo:
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"e vos, filha de don Paay
Moniz, e ben vus semelha
d'aver eu por vos guarvaya". |
O infinitivo pode, pois, flexionar-se em todas as pessoas
gramaticais: amar (eu), amares (tu), amar (ele), amarmos
(nós), amardes (vós), amarem (eles).
Morficamente, o infinitivo flexionado é idêntico
ao futuro simples do subjuntivo nas conjugações
verbais regulares. Distingue-se deste por encerrar significado
declarativo (afirmativo ou negativo: "Quero que os
alunos tenham mais aulas de Português para entenderem
o infinitivo flexionado"), ao passo que o futuro
do subjuntivo expressa hipótese condicional (se
eles entenderem) ou temporal (quando eles
entenderem). Outros exemplos de orações
com o infinitivo flexionado: "Ao se aproximarem
os professores, os alunos levantaram-se", "As
andorinhas vinham chegando em revoada até pousarem
todas sobre a figueira" e "Lembrou existirem
emendas na ata da assembléia anterior".
Dois autores estabeleceram regras para o infinitivo flexionado:
Jerônimo Soares Barbosa e Frederico Diez (pronuncie
Dits). Vejamos o que consta de cada uma:
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Regra de Soares Barbosa - Em um período
composto, se o sujeito do verbo no infinitivo for
diferente do sujeito do verbo da outra oração,
o infinitivo será flexionado. Ex.: "(Eu)
Creio (nós) termos sido enganados".
Por outro lado, se os sujeitos do verbo no infinitivo
e do verbo da outra oração forem os
mesmos, o infinitivo não se flexionará.
Ex.: "(Nós) Viajamos juntos para
(nós) discutir o assunto em
profundidade". O autor lusitano apresenta ainda
outros casos de flexão do infinitivo. |
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Regra de Frederico Diez - Somente se usa
o infinitivo flexionado quando ele pode ser substituído
por uma forma modal. Neste caso,
é indiferente se ele tem ou não seu
próprio sujeito. Ex.: "(Eu) Peço-lhes
não recomeçarem (vocês)
a discussão" ®
sujeitos diferentes. Essa oração equivale
a outra em que os dois verbos estão na forma
modal: "(Eu) Peço-lhes que
(vocês) não recomecem
a discussão". Exemplo em que os sujeitos
são os mesmos: "(Eles) Estão
comemorando por (eles) terem passado
no vestibular", que equivale a "(Eles)
Estão comemorando porque (eles)
passaram no vestibular". Esta regra
de Diez é ótimo guia para se apurar
o estilo e evitar-se "que e porque"
na medida do possível. Quando cabível,
suprimam-se esses elementos de ligação
e converta-se o verbo da forma modal na forma infinitiva.
Dessa maneira, em vez de "Ele disse que
é possível que entremos",
use "Ele disse ser possível entrarmos".
(Veja também a Dica
n.º 1, Estilística.) |
Leia agora algumas observações sobre o infinitivo
baseadas em escritos do prof. Campos Mello (CURSO, s.
d.).
1. |
O infinitivo será ou não flexionado
quando a clareza assim o exigir. Ex.: "Infanta,
no exílio amargo, só o existirdes
me consola" (Tasso da Silveira). "D. Amélia
sofria com aquela animosidade dentro de casa. Uma
vez falou com o marido para sair, para procurar
um lugar para morarem em casa que fosse deles"
(José Lins do Rego). Se o infinitivo não
se flexionasse, os sujeitos dos verbos assinalados
seriam diferentes dos expressos nesses exemplos. |
2. |
Certa ênfase de estilo pode justificar o
emprego do infinitivo flexionado, como no exemplo:
"As mulheres cochilando nos quartos, os homens
a caçoar e a rir na sonolência,
a se espreguiçarem do bom almoço
pelas redes e cadeiras" (Dinah Silveira de
Queiroz). |
3. |
Cumpre não confundir o infinitivo flexionado
com o futuro do subjuntivo. Assim, em "Se
algum dia caírem estas linhas sob
os olhos de alguém, rirão..."
(Ciro dos Anjos), tem-se flexão do futuro
do subjuntivo e não, do infinitivo. |
A flexão do infinitivo, quando correta, propicia
clareza, elegância e concisão à escrita.
Para conhecimento mais amplo, consulte a bibliografia
recomendada. |
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