Você sabia... que beira
os quinhentos anos a normatização gramatical
da língua portuguesa? Ela começou no século
XVI, justamente quando ocorreu o Renascimento em Portugal.
Desde os primórdios até então, o português
era, de certa forma, utilizado livremente e os falantes tinham
muita liberdade na escrita. Quase se pode dizer que cada um
escrevia da forma que queria. Basta consultarmos dicionários
etimológicos para ver a variação de grafias
da mesma palavra.
Em 1536, o padre Fernão de Oliveira publica a primeira
gramática da língua portuguesa, a "Gramática
da Lingoagem Portugueza". Nesse período, inicia-se
o processo de enriquecimento do idioma, coroado com a publicação
em 1572 de "Os Lusíadas", de Luís
de Camões, considerado o maior monumento literário
do português.
Esse tempo marca a afirmação da nossa língua
(a exemplo do que já vinha ocorrendo no mundo românico)
diante da forte tradição de considerar o latim
como única língua “nobre” e culta.
Aparecem obras valorizadoras do português, como Diálogo
em louvor de nossa linguagem, de João de Barros,
e Breves louvores da língua portuguesa, de
A. F. Vera. Aliás, é daquele autor a Gramática
da língua portuguesa, de 1540.
A presença do latim na cultura européia ainda
era forte e compreende-se porque os estudiosos eram muito
influenciados por ele. No dizer de Jean Peytard,
“Se
acrescentarmos que o gramático do século
XVI se acha bastante desamparado diante de uma língua
portuguesa de que procura pela primeira vez conhecer a
natureza e o funcionamento e, portanto, tem a tentação
de achar modelos em seu saber de latinista, reúnem-se
todas as condições para que a gramática
portuguesa decalque a latina. Há declinações
em latim: logo deve havê-las em português”.
A partir daí, surgem outros trabalhos e cada vez mais
a língua se firma e se normatiza. No início
do século XIX, Soares Barbosa formula suas regras de
flexão do infinitivo.
E no Brasil? Segundo o prof. Antônio Martins de Araújo
(UFRJ), a primeira gramática brasileira da língua
portuguesa, diferentemente do que muitos pensam, “não
é a do gaúcho Antônio Pereira Coruja,
publicada em 1835, mas sim, o Compêndio da Grammatica
Portugueza, do padre Antônio da Costa Duarte, cuja
edição princeps é de 1829 e alcançou
meia dúzia de edições em São Luís
do Maranhão. Embora se destinasse às ‘Escolas
de Primeiras Letras’, recobria aspectos da Fonética,
da Morfologia (a que chama de Etimologia) e da Sintaxe”.
Ainda de acordo com o prof. Araújo, postulados constantes
daquela gramática pioneira, como o sentido das preposições
(tempo, espaço e noções afins), ainda
permanecem válidos.
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