Você sabia? n.º 94 - Sexta, 25.02.2005
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Você sabia... que beira os quinhentos anos a normatização gramatical da língua portuguesa? Ela começou no século XVI, justamente quando ocorreu o Renascimento em Portugal.

Desde os primórdios até então, o português era, de certa forma, utilizado livremente e os falantes tinham muita liberdade na escrita. Quase se pode dizer que cada um escrevia da forma que queria. Basta consultarmos dicionários etimológicos para ver a variação de grafias da mesma palavra.

Em 1536, o padre Fernão de Oliveira publica a primeira gramática da língua portuguesa, a "Gramática da Lingoagem Portugueza". Nesse período, inicia-se o processo de enriquecimento do idioma, coroado com a publicação em 1572 de "Os Lusíadas", de Luís de Camões, considerado o maior monumento literário do português.

Esse tempo marca a afirmação da nossa língua (a exemplo do que já vinha ocorrendo no mundo românico) diante da forte tradição de considerar o latim como única língua “nobre” e culta. Aparecem obras valorizadoras do português, como Diálogo em louvor de nossa linguagem, de João de Barros, e Breves louvores da língua portuguesa, de A. F. Vera. Aliás, é daquele autor a Gramática da língua portuguesa, de 1540.

A presença do latim na cultura européia ainda era forte e compreende-se porque os estudiosos eram muito influenciados por ele. No dizer de Jean Peytard,

“Se acrescentarmos que o gramático do século XVI se acha bastante desamparado diante de uma língua portuguesa de que procura pela primeira vez conhecer a natureza e o funcionamento e, portanto, tem a tentação de achar modelos em seu saber de latinista, reúnem-se todas as condições para que a gramática portuguesa decalque a latina. Há declinações em latim: logo deve havê-las em português”.

A partir daí, surgem outros trabalhos e cada vez mais a língua se firma e se normatiza. No início do século XIX, Soares Barbosa formula suas regras de flexão do infinitivo.

E no Brasil? Segundo o prof. Antônio Martins de Araújo (UFRJ), a primeira gramática brasileira da língua portuguesa, diferentemente do que muitos pensam, “não é a do gaúcho Antônio Pereira Coruja, publicada em 1835, mas sim, o Compêndio da Grammatica Portugueza, do padre Antônio da Costa Duarte, cuja edição princeps é de 1829 e alcançou meia dúzia de edições em São Luís do Maranhão. Embora se destinasse às ‘Escolas de Primeiras Letras’, recobria aspectos da Fonética, da Morfologia (a que chama de Etimologia) e da Sintaxe”. Ainda de acordo com o prof. Araújo, postulados constantes daquela gramática pioneira, como o sentido das preposições (tempo, espaço e noções afins), ainda permanecem válidos.

 

Leia mais em:
A primeira gramática da língua portuguesa?, de Antônio Martins de Araújo.
Lingüística e ensino do português, de Emile Genouvrier e Jean Peytard.
Saite do prof. Paulo Hernandes, pág. Você sabia? n.? 22.