Você sabia... que a tendência
de certos ditongos reduzirem-se em português a uma só
vogal remonta ao latim? No latim vulgar, o ditongo au,
por exemplo, já era pronunciado “o” pelo
povo em geral, inclusive pelas pessoas cultas. A história
registra que o imperador Vespasiano foi corrigido por Méstrio
Floro ao pronunciar “plostrum”, quando deveria
dizer plaustrum (tipo de carruagem). Algumas formas
evoluídas estão documentadas, outras não,
como aurícula > oricla > orelha, claustrum
> clostrum > claustro, fauce > *foce > foz, laudat
> *lodat > loa, paupere > *popere > pobre.
As que se supõe haverem existido, mas das quais ainda
não há documentos estão assinaladas com
*.
No padrão culto formal, o “au” latino
passa a “ou” em português. No século
X, ainda no período do romanço,
encontram-se documentos em que esse ditongo já aparece.
Assim, temos amauit > amaut > amou, audire >
ouvir, auru > ouro, causam > cousa, laudare > louvar,
lauru > louro, paucu > pouco, pausare > pousar, raucu
> rouco, tauru > touro, thesauru > tesouro.
Quando “au” átono iniciava palavra e a
sílaba tônica continha “u”, o ditongo
perdia essa vogal: auguriu > *aguriu > agoiro, augustu
> agustu > agosto, auscultare > ascultare > ascuitar
(arc.) > escutar.
Na língua oral, o ditongo “ou” começa
a perder a semivogal provavelmente a partir do século
XVI. A tendência à redução a vogal
única continua, tanto no registro popular como no culto:
couro > coro, louro > loro, ouro > oro (cf.
o espanhol oro, moro, toro), rouba > róba,
tesoura > tisora, touro > toro. Essa tendência
verifica-se também no ditongo “eu”: Eurípedes
> Oripes, Eulália > Olália. Em nossos
falares regionais, sobrevivem várias formas arcaicas,
como sodade, certamente exemplo da redução
do ditongo “oi” de soidade (arc.), provável
variante de soudade.
“Era a qualidade consonantal do segundo elemento do
ditongo au ou de seu sucessor ou que algumas
vezes evitava a sonorização da consoante medial
seguinte, e. g., paucu > pouco; raucu > rouco, cautu
> couto.” (WILLIAMS, 1961: 43)
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