Você sabia... que uma das leis fonéticas, princípios diretores
que atuam na evolução das palavras portuguesas, é a permanência
da consoante inicial? Com efeito, quase sempre, a consoante
inicial das palavras latinas permaneceu na transformação para
o português. Assim:
bucca > boca
cantare > cantar
dignitate > dignidade
ferru > ferro
filiu > filho
libru > livro
pace > paz
turre > torre. |
Excepcionalmente, algumas consoantes não permaneceram, como
o /k/ inicial, que às vezes se sonoriza e passa a /g/: camella
> gamela, cauea > gaiva e cattu > gato.
Este fato é atribuído ao fenômeno conhecido por “sândi”,
transformação que sofrem os fonemas em contato com outros,
de outras palavras. Assim, em expressões como ille cattu
(aquele gato), como o /k/ ficava em posição intervocálica,
ou seja, entre vogais, acabou sonorizando-se e passando a
/g/. O sândi também atuou na transformação de germanu
em irmão: antecedido de “ipsu” (próprio), por exemplo,
o /g/ passa a /y/, de modo que se tem a evolução germanu
> yermanu > ermano > irmão. (Veja também Você
sabia? n.º 20.) De qualquer
forma, enquanto as consoantes mediais e finais passaram por
mudanças como sonorizações e quedas, as iniciais, de modo
geral, mantiveram-se. Isso pode ser explicado pelo acento
de intensidade do latim, que ressaltava a sílaba inicial das
palavras, e também pela nitidez com que se procura emitir
essas sílabas para garantia da clareza na emissão verbal.
|