Dica n.º 153 - Sexta, 31.08.2007
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Sobre o "não"

A palavra “não” classifica-se normalmente como advérbio (de negação) e dessa forma, na estrutura da frase, é considerada adjunto adverbial – pois se vincula ao verbo –, como em “Não ® pise no tapete”, “Pensei que Leo não ® viesse hoje” e “Os paulistas não ® gostamos de coentro”.

Pode acontecer também de esse vocábulo negativo compor substantivos. Nesta hipótese, funciona como elemento de composição, mais precisamente como morfema de negação, e é escrito sempre com hífen. Exemplos: “Gandhi pregava a não-violência”, “O Brasil apóia a política da não-intervenção em outros países” e “Esse conceito obedece o princípio da não-contradição”.

Repare ainda que às vezes o “não” pode aparecer em contextos similares aos do parágrafo precedente e você pode ser tentado a colocar o hífen depois dele. Fique atento a isso, pois, na verdade, trata-se de outro caso, o de verbo subentendido, como em “Tânia é pessoa não submissa” e “Não satisfeito, ele ainda rompeu relações com o vizinho”. Explicitado o verbo, as construções oracionais ficam: “Tânia é pessoa que não é submissa” e “Não tendo ficado satisfeito, ele ainda rompeu relações com o vizinho”. Naquelas condições, não cabe, pois, o hífen.

Lembramos ainda que o “não” pode ser classificado como substantivo (e nesse caso pode-se flexionar) se antecedido de artigo – definido ou indefinido –, adjetivo ou numeral, como em “O (artigo definido) não que você proferiu foi vigoroso, hem?”, “Recebi um (artigo indefinido) não como resposta”, “Rodrigues distribuiu vários (adjetivo) nãos aos subordinados” e “Eu não disse dois, foi apenas um (numeral) não”.

Finalmente, observamos haver contextos em que o “não” funciona apenas como partícula expletiva, como nestes exemplos: “Imagine o que ele não faria se fosse rico” = “Imagine o que ele faria se fosse rico”; “Veja a que nível de baixaria essas pessoas não chegaram” = “Veja a que nível de baixaria essas pessoas chegaram” e “Ah, que sucesso eu não faria se tivesse a cara do Brad Pitt!” = “Ah, que sucesso eu faria se tivesse a cara do Brad Pitt!”. Nestes contextos, o emprego do “não” é estilístico. Isso implica ele poder ser retirado sem alteração do sentido geral do texto, mas se isso ocorrer a frase perderá um pouco de sua força expressiva.

Leia também em:
Dicionário Aurélio eletrônico; século XXI, verbete “não”.
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, §§ 528 (1); 784 (6); 828, especialmente a nota; 958.
Saite do prof. Paulo Hernandes, pág. dica n.º 28.

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