Dica n.º 28 - Sexta, 02.02.2001
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Negação lexical

A negação lexical faz-se em português através do "morfema de negação". Este se materializa na fala através dos alomorfes a-, des-, i-, in- e não-. Vejamos cada um deles:

a- De origem grega, "a-" entra na composição de vocábulos como acrítico (a + crítico), atípico (a + típico), atóxico (a + tóxico). Por questão de eufonia, diante de vogal, assume a forma "an-", como em anaeróbico (an + aeróbico) e anovulação (an + ovulação), embora tenhamos aético (a + ético). O prefixo de origem grega "a-" não deve ser confundido com outro, de origem latina, com significado de afastamento, separação, como em apartar.
des- Trata-se de prefixo vernáculo, que integra muitos vocábulos portugueses, tais como desacerto (des + acerto), desonesto (des + honesto), desaconselhável (des + aconselhável). O prefixo "des-" pode também significar "ação contrária", como em desfazer e desconsiderar, que não é o caso de que tratamos aqui.
i- Prefixo de origem latina, alguns gramáticos consideram-no variante do "in-". Aparece em vocábulos como ilógico (i + lógico), iliquidez (i + liquidez), imerecido (i + merecido), imoral (i + moral). Diante de palavras iniciadas com / /, muda, na escrita, para "ir-" a fim de manter o caráter forte daquele fonema: irreal (ir + real), irrecorrível (ir + recorrível), irreconhecível (ir + reconhecível).
in- Este também é prefixo de origem latina, que entra na composição de muitas palavras, como inapto (in + apto), inviável (in + viável), insatisfeito (in + satisfeito). Diante de palavras iniciadas com /b/ e /p/,ocorre certa acomodação na escrita: in- transforma-se em im-, já que "b", "p" e "m" são letras que representam, todas, fonemas bilabiais, isto é, emitidos mediante a junção dos lábios. Assim, temos imbatível (im + batível), impatriótico (im + patriótico), improcedente (im + procedente). É preciso não confundir este prefixo com outro "in-", que significa "movimento para dentro", às vezes transformado em "em-" e "en-", como em embarcar e enterrar.
não- Embora tenha caráter negativo, este prefixo não deve ser confundido com o advérbio de negação "não". Aqui ele entra na composição de palavras como não-alinhado (não + alinhado), não-contradição (não + contradição), não-intervenção (não + intervenção).

Grande número de exemplos que as gramáticas oferecem de prefixos é formado por palavras que vieram do latim ou do grego já com esses morfemas incorporados, o que não nos interessa em nosso estudo, o de composições ocorridas no português. Assim, átono e impróprio já chegaram ao português com os prefixos "a-" e "in-". A propósito, são oportunas estas palavras de Celso Luft: "Para que exista prefixo reconhecível, é preciso que o radical corresponda a um vocábulo autônomo ou forma livre: contradizer = contra + dizer; inverdade = in + verdade", o qual cita ainda mais dois outros requisitos. Continua ele: "Assim, não há prefixo, sob o ponto de vista descritivo, atual, em palavras como comer, esquecer, para as quais entretanto uma análise histórica depreende os prefixos com- (cum-) e es- (ex-)". Vamos mais além e entendemos que não há prefixos, pelo menos em português, nos citados exemplos átono e impróprio e em todos os que a prefixação não ocorreu em nosso idioma.

Leia também em:
Dicionário gramatical da língua portuguesa, de Celso P. Luft, verbetes "Negação" e "Prefixo".
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, §§ 628 a 630.
Nova gramática do português contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, item "Prefixo".

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