Substantivação
Substantivação é recurso de que se valem
os falantes da língua para formar novas palavras pelo
processo denominado pelos gramáticos de “derivação
imprópria”. Por ele, unidades lexicais
mudam de sentido – isto é, de emprego no texto
– quando, diferentemente do usual, passam a ser determinadas
por artigo, numeral, possessivo, etc.
Trata-se de nova palavra porque a forma fônica (seqüência
de fonemas), apesar de mantida, associa-se
a outro significado. Há também mudança
de classe de palavras: o que era adjetivo ou verbo, por exemplo,
torna-se substantivo. Nesta condição, o vocábulo
substantivado pode, de modo geral, flexionar-se normalmente.
Em princípio, palavra de qualquer classe pode assumir
a função substantiva, ou seja, pode-se substantivar
e a maneira mais comum de isso ocorrer é a junção
a ela do artigo definido “o”. Vejamos alguns exemplos
de substantivação de:
- Adjetivo – “Belo”, “estudioso”
e “rico” são adjetivos em “belo
espetáculo”, “aluno estudioso”
e “homem rico”. Acompanhados
de artigo, porém, transformam-se em substantivos,
como em “A estética estuda o belo”,
“Os estudiosos não
tiveram do que reclamar” e “Os ricos
moram ali”. Note que no grau superlativo relativo
também aparece o artigo definido, mas isso não
configura substantivação. É simplesmente
o modo de construção dessa estrutura comparativa:
“Carlos foi o melhor do grupo”.
- Pronome – Ao juntarem-se artigos e numerais
a pronomes, como “eu” e “nosso”,
estes se convertem em substantivos ou exercem função
substantiva: “A Psicologia interessa-se pelo estudo
do eu” e “Esse barco
é o nosso”.
- Verbo – É muito comum a substantivação
de verbos. Veja que em “Quero andar
mais depressa”, “Vamos falar
francamente” e “Não se trata de ser
bom ou ter qualidades” “andar”,
“falar”, “ser” e “ter”
são nitidamente verbos. Entretanto, tais palavras
mudam de sentido ao tornarem-se substantivos em “O
andar dele é característico”,
“São vários os falares
regionais brasileiros” e “Segue o ensinamento
cristão quem se preocupa mais com o ser
do que com o ter”.
- Numeral – “Dois”, “sete”,
“duplo”, etc. podem-se substantivar mediante
o acréscimo de artigo, possessivo e mesmo de numeral:
“O sete é número
mágico”, “Já lhe dei meu
dois de copas” e “A ginasta
executou dois duplos arriscados”.
- Advérbio – Da mesma forma, é
corriqueira a substantivação de advérbios,
como “bem”, “mal”, “não”,
etc.: “Devemos sempre fazer o bem”,
“Dos males, o menor”
e “Péricles recebeu um não
como resposta”.
- Preposição – Vêem-se
também preposições substantivadas,
tais como “de” e “contra”: “Retoque
o (vocábulo) de, que ficou
apagado” e “É preciso pesar os prós
e os contras”.
- Conjunção – “O
ou não ficou bem colocado aí”
e “Só quero saber o porquê”.
Como se sabe, “porque”, na função
substantiva, é graficamente acentuado. Leia mais
sobre isso clicando aqui.
- Interjeição – Até as
interjeições podem-se transformar em substantivos
ao serem acompanhadas de artigos, numerais ou pronomes,
a exemplo de “Depois dos vivas,
ele apareceu”, “Dois psius
ouviram-se durante a prova” e “Ninguém
escutava meus ais”.
É necessário levar em conta as seguintes observações
em se tratando do processo de substantivação:
- Palavras normalmente invariáveis passam a flexionar-se
uma vez substantivadas, como “Quantos noves
você tem?” e “Alberto levou vários
foras”. Observe, porém, que
os numerais “dois”, “três”,
“seis” e “dez”, mesmo em função
substantiva, não se flexionam: “Retire todos
os dez do baralho” e “Esses
três ficam aqui”.
- Uma vez substantivados, muitos vocábulos átonos
tornam-se tônicos, isto é, ganham autonomia
fonética ao não se necessitarem apoiar em
palavras sonoramente mais fortes: “Ela tem um quê
de mistério” e “Se não fosse o
se...”.
- Não se confunda palavra substantivada com substantivos
que normalmente são acompanhados de artigo. Desse
modo, em “O tigre é
felino poderoso”, o artigo não está
substantivando nada, já que “tigre” é
naturalmente substantivo e assim atua no contexto.
- A palavra substantivada pode assumir qualquer função
sintática reservada ao substantivo, como sujeito
e complemento. Exemplos: “Seu olhar
(sujeito) é magnético” e “Quero
ouvir um sim (objeto direto)”.
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