Sendo que
Essa expressão, indevidamente utilizada, torna-se
insossa e incorreta quando costuma aparecer em frases como
“O agricultor fez empréstimo no valor de R$100.000,00,
sendo que R$30.000,00 destinou para benfeitorias
na propriedade”. E por que é insossa e incorreta?
Insossa porque não tem sentido, uma vez que não
encerra idéia circunstancial de causa nem de concessão.
Na verdade, idéia nenhuma. No exemplo dado, o numeral
que representa aquela soma não está “sendo”
nada.
Incorreta porque:
- Está empregada com valor de relativo, como se seu
antecedente fosse “R$100.000,00”.
- Configura gerundismo: “sendo” é gerúndio
do verbo “ser”, mas na construção
acima não ocorre nenhuma condição para
o emprego dessa forma
nominal. Leia mais sobre esse vício
clicando aqui
e aqui.
Como então reescrever aquela frase de forma correta
e lógica? Há várias soluções,
entre as quais:
- Colocar em lugar do indevido “sendo que” o
elemento apropriado (dos quais, de que), como em
“O agricultor fez empréstimo no valor de R$100.000,00,
dos quais R$30.000,00 destinou para benfeitorias
na propriedade”.
- Simplesmente eliminar o tal de “sendo que”,
truncar o período em “R$100.000,00” e
iniciar nova frase a partir daí, como em “O
agricultor fez empréstimo no valor de R$100.000,00.
Destinou R$30.000,00 para benfeitorias na propriedade”.
Fiquemos atentos e expressemos adequadamente o pensamento
evitando formas incorretas, sem lógica e sem sentido.
Dissemos lá no início que sendo que
é insossa e incorreta quando indevidamente utilizada.
Isto significa que pode ser devidamente empregada. Quando
isso ocorre? De acordo com os gramáticos, quando tem
o valor de conjunção causal, isto é,
quando expressa causa. Nesse caso, equivale a “uma vez
que”, “desde que”, “visto que”,
“porquanto”. Tal conjunção –
na verdade, locução conjuntiva
– aparece em períodos compostos por subordinação
em que a oração subordinada encerra idéia
de causa e a principal, de conseqüência. Exemplos:
“Sendo que ele não me pagou,
não posso também o pagar” e “Sendo
que o palestrante ainda não chegou, o início
da sessão sofrerá atraso“.
Apesar do respaldo dado por gramáticos do porte do
prof. Napoleão Mendes de Almeida a este último
uso, achamo-lo também insosso. Recomendamos, portanto,
sendo que ser evitado em qualquer circunstância. |