Pronome oblíquo como sujeito
de oração
Todas as gramáticas afirmam categoricamente que, dos pronomes
pessoais, somente os retos podem ser sujeito de verbo. É por
isso que é incorreto construir-se “Isto é para mim
fazer”, pois o pronome oblíquo mim está sendo empregado
como sujeito do verbo fazer. O que dizer, porém, de orações
como “Deixe-os passar”? Temos aí dois verbos, portanto, duas
orações. O sujeito de “deixe” é de terceira pessoa, por exemplo,
você. E o sujeito de “passar”? Só pode ser os.
Mas “os”, no contexto, é pronome oblíquo e como tal – ainda
de acordo com as gramáticas – não pode ser sujeito de verbo.
Será? Nas construções em que entram os verbos deixar,
fazer, mandar, ouvir, sentir e
ver cujos objetos são verbos no infinitivo
(o complemento de “deixe” é o infinitivo passar), o
pronome oblíquo funciona como sujeito. Neste caso, o verbo
no infinitivo permanece na forma não-flexionada ou impessoal
– apesar das regras
de Soares Barbosa (sujeitos diferentes dos dois verbos) e
da de Frederico Diez (possibilidade de substituição do infinitivo
por verbo
na forma modal).
No exemplo citado – Deixe-os passar –, como já vimos,
o complemento de “deixe” é o infinitivo “passar”, cujo sujeito
é o pronome oblíquo “os”. A oração subordinada “os passar”
equivale a outra em que o verbo se apresenta na forma modal
“que eles passem”, classificada como subordinada substantiva
objetiva direta, introduzida pela conjunção integrante que.
Constatamos, pois, que casos como esse revelam certas dificuldades
lógicas da descrição gramatical que obrigam à prática de contorcionismos
explicáveis pelas tradicionais “exceções”.
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