Dica n.º 50 - Sexta, 06.07.2001
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Pronome oblíquo como sujeito de oração

Todas as gramáticas afirmam categoricamente que, dos pronomes pessoais, somente os retos podem ser sujeito de verbo. É por isso que é incorreto construir-se “Isto é para mim fazer”, pois o pronome oblíquo mim está sendo empregado como sujeito do verbo fazer. O que dizer, porém, de orações como “Deixe-os passar”? Temos aí dois verbos, portanto, duas orações. O sujeito de “deixe” é de terceira pessoa, por exemplo, você. E o sujeito de “passar”? Só pode ser os. Mas “os”, no contexto, é pronome oblíquo e como tal – ainda de acordo com as gramáticas – não pode ser sujeito de verbo. Será? Nas construções em que entram os verbos deixar, fazer, mandar, ouvir, sentir e ver cujos objetos são verbos no infinitivo (o complemento de “deixe” é o infinitivo passar), o pronome oblíquo funciona como sujeito. Neste caso, o verbo no infinitivo permanece na forma não-flexionada ou impessoal – apesar das regras de Soares Barbosa (sujeitos diferentes dos dois verbos) e da de Frederico Diez (possibilidade de substituição do infinitivo por verbo na forma modal). 

No exemplo citado – Deixe-os passar –, como já vimos, o complemento de “deixe” é o infinitivo “passar”, cujo sujeito é o pronome oblíquo “os”. A oração subordinada “os passar” equivale a outra em que o verbo se apresenta na forma modal “que eles passem”, classificada como subordinada substantiva objetiva direta, introduzida pela conjunção integrante que. Constatamos, pois, que casos como esse revelam certas dificuldades lógicas da descrição gramatical que obrigam à prática de contorcionismos explicáveis pelas tradicionais “exceções”.

Leia também em:
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, §§ 652 e 925.

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