Você sabia... qual é
a origem e o emprego do pronome você?
“Você” é forma evoluída (transformada)
do pronome de tratamento vossa mercê, assim:
vossa mercê > vossemecê > vosmecê
> você. Textos de 1813 já a registram,
sob a forma de vosse.
Na prática, seu emprego é de segunda pessoa,
já que é usado com referência à
pessoa com quem se fala (teoricamente, tu) e não,
à pessoa de quem se fala. Entretanto, em razão
da origem, “você” é pronome de tratamento
– da mesma forma que vossa excelência, vossa
senhoria, vossa majestade, vossa alteza e outros –
e como tal é da terceira pessoa do singular (plural:
vocês). Por isso, leva o verbo para a terceira
pessoa: “Você é
meu amigo” e “Vocês podem
ir”.
Você é utilizado como sujeito, agente
da passiva e adjunto adverbial, como em “Você
já disse o que quer”, “Cátia foi
nomeada por você” e “Quero
ir com você”. No padrão
coloquial,
também aparece como predicativo, especialmente no plural:
“Este livro é de vocês?”.
Esse pronome funciona também como objeto, mesmo na
língua culta: “Quero você
para mim” e “Não darei a você
esse gostinho”.
Você é largamente empregado na maior
parte do território brasileiro, com exceção
do Sul e de algumas áreas do Norte e Nordeste –
em que se usa tu –, para expressar intimidade,
para indicar relação de igual para igual ou
relação superior/subordinado e mais velho/mais
jovem. Em Portugal, ele também existe, mas é
sobrepujado em uso por tu.
Resta uma questão: por que os pronomes de tratamento
são de terceira pessoa, uma vez que se referem à
pessoa com quem se fala (segunda)? Tal fato tem explicação
histórica: no passado, não era considerado apropriado
alguém se dirigir diretamente a autoridade ou a pessoa
de classe social superior usando pronome de segunda pessoa
(tu, vós). Os costumes requeriam o emprego de formas
indiretas, pelas quais se fazia referência aos atributos
do interlocutor. Daí os pronomes Vossa Excelência,
Vossa Majestade, Vossa Reverendíssima e outros serem
de terceira pessoa (forma indireta) e para ela levarem o verbo,
pronomes oblíquos e possessivos. Como exemplos atuais
dessa comunicação indireta, temos: “Meu
pai gostaria de levar-me ao shopping?” (em vez de “Pai,
quer me levar ao shopping?”) e “A filhinha agora
vai tomar sopinha” (em lugar de “Filhinha, agora
você vai tomar sopinha”).
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