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Você sabia... que a sílaba tônica
das palavras latinas tendeu a permanecer assim nas portuguesas?
Pois é, essa tendência constitui uma das leis fonéticas,
a lei da persistência da sílaba tônica.
Isto se explica em virtude de o acento tônico impor inflexão
de voz mais demorada àquela sílaba, o que certamente
fez com que ela resistisse, ou seja, não sofresse queda
e ainda continuasse a mais forte. Assim, temos: |
Latim
aqua
lutu
civitate
persicum
timidu
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Português
água
lodo
cidade
pêssego
tímido |
Houve, porém, muitos casos em que essa lei não
prevaleceu e o acento tônico alterou-se, boa parte deles
ainda no latim vulgar, do qual o português herdou a acentuação
fonética. A não-prevalência da lei da persistência
da sílaba tônica deve-se a causas fonéticas,
morfológicas e analógicas. Vejamos sucintamente
cada uma delas: |
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Causas fonéticas O latim
vulgar tendeu a evitar o hiato existente nas palavras do
latim erudito (clássico), como aquelas em que o i
ou e tônicos eram seguidos de vogal. Isto
ocorreu com o deslocamento do acento tônico para a segunda
vogal, que acabou permanecendo até chegar ao português:
mulíere > muliére
> mulher (com apócope
do e), paríete > pariête
> parede. No latim erudito, vogais seguidas
de grupos consonantais formados por consoantes oclusivas
+ alveolares eram geralmente átonas,
que se tornaram tônicas no latim vulgar e assim permanecerem
no português: íntegru >
intêgru > inteiro,
tênebras > tenébras
> trevas (continuaram paroxítonas no
português). Evidentemente, os acentos gráficos
aqui colocados nas palavras latinas servem apenas para indicar
a vogal tônica e seu timbre. |
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Causas morfológicas No latim vulgar,
houve o deslocamento do acento tônico existente no latim
erudito nos vocábulos compostos quando o falante tinha
consciência da composição, em virtude de
o segundo elemento conter a idéia principal. Assim, rênego
(re + nego) > renégo > renego,
rêvoco (re + voco) > revóco
> revogo (permaneceram paroxítonas no
português). |
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Causas analógicas A analogia é força
transformadora poderosa, como já vimos no Você
sabia? n.º 5. Também no deslocamento do acento tônico ela
atuou, como no caso das conjugações verbais. Os verbos da terceira
conjugação do latim erudito (com terminação em ĕre)
identificaram-se, no latim vulgar lusitânico, com os da segunda
conjugação (com terminação em ēre), de forma que
aquela acabou por desaparecer. Assim, fácere >
facêre > fazer, sápere
> sapêre > saber (ambos com apócope
do “e”). A força analógica também agiu sobre alguns verbos da
segunda conjugação latina erudita, que passaram para a quarta
no latim vulgar, e sobre a primeira e segunda pessoas do plural
de certos tempos do indicativo e do subjuntivo. Na passagem
para o português, mantiveram-se as formas tônicas do latim vulgar.
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Leia mais em:
Gramática
histórica, de Ismael de Lima Coutinho, p. 148 e segs.
Saite do prof. Paulo Hernandes, pág. Glossário Gramatical,
verbete “Analogia”. |
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