Você sabia? n.º 23 - Sexta, 09.02.2001
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  Você sabia... qual a origem do ditongo nasal -ão?
Os ditongos au e ou - este último pode-se alternar com oi - foram herdados do latim, mas o encontro vocálico "ão" (notado foneticamente /ãw/), peculiar do português, e os demais ditongos são criações românicas. Isso quer dizer que surgiram durante a época do romance ou romanço lusitânico (período de transição do latim ao português) e transformaram-se posteriormente. Para o ditongo final "-ão" confluíram as terminações arcaicas -ão, -am e -om, estas por sua vez correspondentes às latinas -anu, -ane, -one, -udine, -unt, -um, -on, -ant, -a(d)unt, como abaixo:

Forma latina
manu
pane
ratione
certitudine
sunt
in tunc > intum
non
dant
vadunt
forma arcaica
mão
pam, pan, pã
razõ, razom,razon
çertidõe, çertidue, certidom
som
entõ, enton
non, nõ
dam
vam
forma atual
mão
pão
razão
certidão
são (flexão do verbo ser)
então
não
dão
vão

Como se vê, várias formas atuais que se escrevem com "-ão" final já foram grafadas com "-am". Isso pode explicar a confusão que se observa na escrita de pessoas com deficiências de alfabetização. Nota-se que confundem essas terminações e escrevem, por exemplo, "amarão" no lugar de "amaram" e vice-versa. Na verdade, a representação fonética das duas formas é idêntica, o que mostra terem a mesma seqüência de fonemas. O que difere é apenas a posição do acento tônico. Assim, no vocábulo "amaram", representado /a'marãw/, o acento tônico recai sobre a sílaba "ma", enquanto que em "amarão", representado /ama'rãw/, recai sobre "rãw". Mas os fonemas são os mesmos.

Leia mais em:
Gramática histórica, de Dolores Garcia Carvalho e Manoel Nascimento.
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho.
Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa, de Antônio Geraldo da Cunha.
Textos arcaicos, de José Leite de Vasconcellos.

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