Você sabia? n.º 12 - Sexta, 13.10.2000
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Você sabia... qual foi a influência das línguas indígenas sobre o português do Brasil? Considerável, pode ter certeza. Nos primeiros tempos da colonização, os portugueses tiveram de aprender as línguas nativas - especialmente línguas do tronco tupi - para poderem comunicar-se com os índios e empreender a conquista da nova terra. Os padres jesuítas, que logo depois chegaram, também tiveram de conhecer as línguas das tribos com que entraram em contato para poderem evangelizá-las. Chegaram a escrever uma gramática e dicionário. Séculos depois, o português finalmente conseguiu sobrepor-se aos idiomas nativos, mas, mesmo assim, eles deixaram sua poderosa marca na nossa língua, quer no vocabulário, quer na pronúncia, quer ainda na construção de várias frases. Ao aprender o português, os índios faziam-no com sotaque, com pronúncia a seu modo de fonemas que lhes eram estranhos. No léxico, a influência foi enorme (cerca de cinco mil palavras), dada a existência de milhares de topônimos (nomes de lugares) e antropônimos (nomes de pessoas) brasileiros. Assim, temos nomes de:

· Cidades, bairros, lugares e fenômenos naturais - Aracati, Aracaju, Arapiraca, Butantã, Guarapari, Guaratinguetá, Igaraçu, Iguaçu, Itaberaba, Itaim, Itaipu, Itambé, Itu, Itatiaia, Ituiutaba, Jacutinga, Jundiaí, Mandaguari, Manhuaçu, Manhumirim, Pacaembu, Paracatu, Paraíba, Paraná, Piracanjuba, Piracicaba, Piraí, Piratuba, Taguatinga, Taquaritinga, Tucuruvi, Ubajara, biboca, caatinga, capão, capoeira, coivara, piracema, pororoca, tapera, toca, toró, voçoroca e milhares de outros.
· Acidentes geográficos
- Baías, rios, lagos e lagoas - Araguaia, Guanabara, Guajará, Itabapoana, Jacuí, Paraguai, Paranapanema, Ivaí, Uruguai, Jequitinhonha, Mirim, Mojiguaçu, Paranoá, Sapucaí, Paranaíba, Parnaíba, Tapajós, Xingu, Taquari, Tamanduateí, Tibaji, etc.
- Serras: Borborema, Cariri, Ibiapaba, Parima, Paracaima, etc.
· Pessoas e também sobrenomes - Araci, Coaraci, Guaraci, Guaraciaba, Iara, Iracema, Itajiba, Itiberê, Jaci, Jaguaribe, Jandira, Jucá, Jupira, Juraci, Jurandir ou Jurandi, Jurema, Moema, Oiticica, Pitanga, Sucupira, Ubirajara, Ubiratã e inúmeros outros.
· Habitantes de cidades ou estados: capixaba, carioca, potiguar.
· Animais - Araponga, arara, ariranha, caninana, capivara, curiango, curió, cutia, gambá, irara, jaburu, jacaré, jacu, jararaca, jataí, jibóia, juriti, lambari, mandi, maracanã, paca, piramotaba, piranha, quati, sabiá, saúva, seriema, sucuri, surubim, tamanduá, tatu, urubu, urutu, etc.
· Seres do reino vegetal - Abacaxi, araçá, buriti, cabiúna (ou caviúna), caju, capim, carnaúba, caroba, cipó, cupuaçu, guabiroba (ou gabiroba e outras variantes), imbuia, ingá, ipê, jaboticaba, jacarandá, jatobá, jequitibá, mandioca, peroba, sapé, taioba, taquara, timbó, tiririca, umbaúba, etc.
· Comidas e bebidas - Beiju, moqueca, pamonha, quirera, tapioca, tucupi, uca.
· Objetos, aparelhos, utensílios, armas - Arapuca, curare, igaçaba, jacá, tacape, tipiti, urupema.
· Doenças, crenças e crendices - Catapora, jururu, sapiroca, sapituca; Caipora, Curupira, Iara, Saci, urucubaca.

Muitas dessas palavras produziram compostos e derivados: amapaense, cajueiro, capinzal, guarda-mirim, ingazeiro, manauense, sabiá-da-praia, tocantinense, urubu-rei. Na construção de frases, temos os exemplos de estar na pindaíba, chorar pitanga e lamber embira.
Finalmente, na área da Fonética, é atribuída à influência indígena, combinada com a africana - já que os especialistas têm dificuldade em distinguir as duas -, certas modificações sonoras nas palavras, como em borso (bolso), carça (calça), cuié (colher), farso (falso), fulinha (folhinha), muié e mulé (mulher), paia (palha), paiaço (palhaço), véio (velho), etc.

Leia mais em:
A língua do Brasil, de Gladstone Chaves de Melo.
A língua nacional e outros estudos lingüísticos, de João Ribeiro.
Dicionário etimológico de nomes e sobrenomes, de Rosário Farâni Mansur Guérios.
Dicionário histórico das palavras portuguesas de origem tupi, de Antônio Geraldo da Cunha.
Dicionário tupi português e vice-versa, de Oberdan Masucci.
Gramática histórica, de Ismael de Lima Coutinho.
O livro dos nomes, de Regina Obata.

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