Você sabia... qual a extensão da influência
africana no português brasileiro? Por quase trezentos
anos, o Brasil recebeu milhares e milhares de africanos, aqui
trazidos como escravos para o trabalho rural ou na mineração.
Vieram negros de praticamente toda a África, mas deles
destacam-se dois grandes grupos: o guineano-sudanês
e o banto. Esses povos falavam muitas línguas, das
quais quatro exerceram razoável influência na
nossa. Do primeiro grupo, podemos mencionar o iorubá
ou nagô (Nigéria) e o eue ou jeje
(Benim). Do segundo, o quimbundo (Angola) e o quicongo.(Congo).
Uma série extensa de palavras oriundas dessas línguas
incorporaram-se ao nosso léxico,
especialmente as relativas a:
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Divindades, conceitos e práticas religiosas,
ainda hoje utilizadas na Umbanda, Quimbanda e Candomblé
(inclusive essas três palavras) - Oxalá,
Ogum, Iemanjá, Xangô, pombajira, macumba,
axé, mandinga, canjerê, gongá (ou
congá); |
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comidas e bebidas (muitas delas, originariamente,
comidas e bebidas-de-santo, que depois se popularizaram
na nossa culinária, notadamente na baiana) - Quitute,
vatapá, acarajé, caruru, mungunzá,
quibebe, farofa, quindim, canjica e possivelmente
cachaça; |
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topônimos, isto é, nomes de lugares
e locais - Caxambu, Carangola, Bangu, Guandu, Muzambinho,
S. Luís do Quitunde; cacimba, quilombo,
mocambo, murundu, senzala; |
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roupas, danças e instrumentos musicais
- Tanga, miçanga, caxambu, jongo, lundu, maxixe,
samba, marimba, macumba (antigo instrumento de percussão),
berimbau; |
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animais, plantas e frutos - Camundongo, caxinguelê,
mangangá, marimbondo, mutamba, dendê, jiló,
quiabo; |
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deformidades, doenças, partes do
corpo - Cacunda, capenga, calombo, caxumba, banguela,
calundu, bunda. |
Várias palavras produziram compostos e derivados,
como pé-de-moleque, molecagem, minitanga,
quiabinho, angu-de-caroço, dendezeiro
e tantas outras. Curiosa é a formação
de capanga, de provável origem banto: a forma
normal é panga (companheiro), que entrou para
o português acrescida do prefixo diminutivo ca.
Isto quer dizer que na origem "capanga" significa
"companheirinho". De procedência africana
são também provérbios como "por
fora, muita farofa; por dentro, molambo só"
(aqui, farofa = ostentação e molambo
= trapo, farrapo).
Enquanto a grande maioria dessas palavras entrou há
muito tempo na língua, uma outra é de chegada
mais recente: rastafari, em que o elemento de origem
árabe ras é título de chefe etíope
(da Etiópia, Nordeste africano). Designa tipo de penteado
muito em moda nos últimos tempos no Brasil. A África
continua inspirando...
A influência africana fez-se sentir também na
área da Fonética, combinada
com a influência indígena, já que os especialistas
têm dificuldade de identificar a ação
de cada uma separadamente. Essa influência operou-se
principalmente no linguajar chamado "caipira", utilizado
pelos falantes da área rural com instrução
formal pouca ou nenhuma. Assim, são atribuídas
à influência afro-indígena formas como
tá (está), mió (melhor),
fulô (flor), muié (mulher), paiaço
(palhaço), cosca (cócega), memo
(mesmo), aquerditá (acreditar), num (não),
andano (andando), etc. Entretanto, algumas dessas formas
podem ter-se originado do próprio português lusitano
na época da colonização. Várias
palavras africanas penetraram também no português
europeu, mas a influência aqui foi sem dúvida
maior.
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