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Prosopopéia A prosopopéia,
também chamada “personificação”,
é figura de linguagem – mais precisamente, figura
de pensamento – que consiste na atribuição
de características humanas a animais ou a seres inanimados
ou ainda a invocação de figuras imaginárias
ou já desaparecidas. “É a figura, por excelência,
de ficção, dos mitos, das histórias (estórias)
maravilhosas e narrações infantis” (CHERUBIM,
1989: 55). Assim, temos prosopopéia nas
fábulas, como na do “O lobo e o cordeiro”,
em que o lobo “fala” para o carneiro: “Se
não foi você (quem sujou a água), foi seu
pai, seu avô ou alguém de sua família”.
Ou na história de Christina Hernandes em que “as
árvores, desesperadas, gritavam pedindo socorro, que
não vinha” 1 . Ou ainda quando "os
automóveis ouvem a notícia" 2.
Ocorre igualmente essa figura quando Camões conta que
“um velho de aspeito venerando tais palavras tirou do
experto peito: ‘Ó glória de mandar...’”
(CAMÕES,
s. d.: 170) 3. Refere-se ele ao Velho do Restelo,
figura mitológica lusitana. Ou quando Castro Alves clama
“Andrada! arranca esse pendão dos ares! Colombo!
fecha a porta dos teus mares!”, uma vez que o navegador
já havia morrido séculos antes de o poeta escrever
“Os escravos”. Da mesma forma, novamente Camões
em “Os altos promontórios o choraram” (Idem,
ibidem: 132) 4 e “Do mar que vê do Sol
a roxa entrada” (Idem, ibidem: 60) 5. O poeta
épico faz os promontórios chorarem e o Sol, ver.
Há empregos da prosopopéia de identificação
fácil, mas outros, como, por exemplo, em Os Lusíadas,
exigem leitura atenta e alguma ilustração.
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1 Hernandes, C., Árvores guerreiras.
São José dos Campos, JAC, 2002.
2 Zé Ramalho, Admirável gado novo,
1981.
3 A citação localiza-se no canto IV: 94-95.
4 Idem, canto III: 84.
5 Idem, canto I: 28.
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