Dica n.º 167 - Sexta, 28.11.2008
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Ortoepia/Ortoépia

O termo “Ortoepia” significa pronúncia correta dos sons isolados (vogais e consoantes). Podemos, porém, falar em “correção” para a pronúncia das palavras? É verdade que tudo no idioma resulta de convenção, isto é, de acordo entre os falantes. Isso vale até mesmo para outros setores da língua, como a sintaxe, onde há regras mais rígidas. Contudo, parece que, no que se refere à área fonética, talvez seja mais apropriado falar em uso do que em correção.

Assim, o uso que a grande maioria dos falantes faz é o fator determinante da pronúncia aceitável das palavras. Quem se põe a falar diferente, chama a atenção dos demais, quando não é corrigido.

Comecemos pela própria palavra “Ortoepia”: a derivação do original grego impõe a pronúncia paroxítona: “Ortoepia”, com “ê”. Entretanto, a forma mais usual é proparoxítona: “Ortoépia”, com “é”. Se a maioria quer assim, assim é.

A alteração da pronúncia dos fones geralmente se dá com relação ao timbre e ao acento tônico. Não vamos aqui tratar das mudanças que afetam esse último, mas apenas das relacionadas com as vogais (timbre e altura) e a substituição de algumas consoantes.

Seguem algumas palavras em que há vacilação quanto à pronúncia culta de fones. Os acentos estão colocados apenas para assinalar o timbre (aberto ou fechado) ou o fone em que houve alteração:

Pronúncia da maioria
bôda
despender
fascista: facista
fornos: fórnos
xico: tócsico
Desvio de pronúncia
bóda
dispender
fachista
fôrnos
chico

Às vezes, as pessoas que aderem a certo tipo de pronúncia concentram-se em certa região e sua quantidade é grande o suficiente para caracterizar regionalismo, ou seja, norma de uso por certo grupo falante. Vão aqui alguns exemplos de regionalismos:

banâna/bânâna
ê/é (nome da letra “e”)
fêcha/fécha (flexão do verbo “fechar”)
fêliz/féliz
mamão/mâmão
pêgo/pégo (particípio de “pegar”)
pôça/póça
registro/rezistro
sapê/sapé
têlêfone/téléfone
mas/mãs

Quando a pronúncia desviada não altera o significado da palavra, produz, no máximo, estranhamento. Entretanto, às vezes, a emissão inadequada dos fones muda o significado. Isso tem estreita relação com o fenômeno da paronímia e a palavra que tencionávamos emitir acaba sendo substituída indevidamente por outra de pronúncia muito próxima. É aí que mora o perigo: dizemos uma coisa em lugar de outra.

Vejamos alguns exemplos de mudança na emissão de vogais ou consoantes com alteração do significado:

Comprimento (extensão) – Cumprimento (saudação)
Deferimento (concessão) – Diferimento (adiamento)
Despercebido (desatento) – Desapercebido (desprevenido)
Descriminar (não considerar crime) – Discriminar (distinguir)
Despensa (lugar para guardar alimentos) – Dispensa (desobrigação)
Emergir (vir à tona) – Imergir (afundar, mergulhar)
Emigrar (sair de mudança de um país) – Imigrar (vir de mudança para um país)
Flagrante (evidente) – Fragrante (aromático)
Mandado (ordem judicial) – Mandato (procuração, delegação popular)
Secessão (separação) – Sucessão (seqüência, transmissão)
Tráfego (trânsito) – Tráfico (comércio ilegal)
Treplicar (refutar com tréplica) – Triplicar (tornar três vezes maior)
Vultoso (de grande vulto) – Vultuoso (acometido de vultuosidade, inchado)

Portanto, se quisermos estar com o “passo certo”, isto é, afinados com a maioria dos membros do grupo falante, devemos atentar para a pronúncia usual.

Leia mais em:
Saite do prof. Paulo Hernandes, seção “Você sabia? n.º 25”.


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