Ortoepia/Ortoépia
O termo “Ortoepia” significa pronúncia
correta dos sons isolados (vogais e consoantes). Podemos,
porém, falar em “correção”
para a pronúncia das palavras? É verdade que
tudo no idioma resulta de convenção, isto é,
de acordo entre os falantes. Isso vale até mesmo para
outros setores da língua, como a sintaxe, onde há
regras mais rígidas. Contudo, parece que, no que se
refere à área fonética, talvez seja mais
apropriado falar em uso do que em correção.
Assim, o uso que a grande maioria dos falantes faz é
o fator determinante da pronúncia aceitável
das palavras. Quem se põe a falar diferente, chama
a atenção dos demais, quando não é
corrigido.
Comecemos pela própria palavra “Ortoepia”:
a derivação do original grego impõe a
pronúncia paroxítona: “Ortoepia”,
com “ê”. Entretanto, a forma mais usual
é proparoxítona: “Ortoépia”,
com “é”. Se a maioria quer assim, assim
é.
A alteração da pronúncia dos fones
geralmente se dá com relação ao timbre
e ao acento tônico. Não vamos
aqui tratar das mudanças que afetam esse último,
mas apenas das relacionadas com as vogais (timbre e altura)
e a substituição de algumas consoantes.
Seguem algumas palavras em que há vacilação
quanto à pronúncia culta de fones. Os
acentos estão colocados apenas para assinalar o timbre
(aberto ou fechado) ou o fone em que houve alteração:
Pronúncia da maioria
bôda
despender
fascista: facista
fornos: fórnos
tóxico: tócsico
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Desvio de pronúncia
bóda
dispender
fachista
fôrnos
tóchico |
Às vezes, as pessoas que aderem a certo tipo de pronúncia
concentram-se em certa região e sua quantidade é
grande o suficiente para caracterizar regionalismo, ou seja,
norma de uso por certo grupo falante. Vão aqui alguns
exemplos de regionalismos:
banâna/bânâna
ê/é (nome
da letra “e”)
fêcha/fécha
(flexão do verbo “fechar”)
fêliz/féliz
mamão/mâmão
pêgo/pégo
(particípio de “pegar”)
pôça/póça
registro/rezistro
sapê/sapé
têlêfone/téléfone
mas/mãs |
Quando a pronúncia desviada não altera o significado
da palavra, produz, no máximo, estranhamento. Entretanto,
às vezes, a emissão inadequada dos fones muda
o significado. Isso tem estreita relação com
o fenômeno da paronímia e a palavra
que tencionávamos emitir acaba sendo substituída
indevidamente por outra de pronúncia muito próxima.
É aí que mora o perigo: dizemos uma coisa em
lugar de outra.
Vejamos alguns exemplos de mudança na emissão
de vogais ou consoantes com alteração do significado:
Comprimento (extensão) –
Cumprimento (saudação)
Deferimento (concessão) –
Diferimento (adiamento)
Despercebido (desatento) – Desapercebido
(desprevenido)
Descriminar (não considerar crime)
– Discriminar (distinguir)
Despensa (lugar para guardar alimentos)
– Dispensa (desobrigação)
Emergir (vir à tona) –
Imergir (afundar, mergulhar)
Emigrar (sair de mudança de um
país) – Imigrar (vir
de mudança para um país)
Flagrante (evidente) – Fragrante
(aromático)
Mandado (ordem judicial) –
Mandato (procuração, delegação
popular)
Secessão (separação)
– Sucessão (seqüência,
transmissão)
Tráfego (trânsito)
– Tráfico (comércio
ilegal)
Treplicar (refutar com tréplica)
– Triplicar (tornar três
vezes maior)
Vultoso (de grande vulto) – Vultuoso
(acometido de vultuosidade, inchado)
Portanto, se quisermos estar com o “passo certo”,
isto é, afinados com a maioria dos membros do grupo
falante, devemos atentar para a pronúncia usual.
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