Dica n.º 164 - Sexta, 29.08.2008
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Ditongos crescentes e decrescentes

Os ditongos podem-se classificar de acordo com três diferentes critérios. Um deles baseia-se na posição da vogal tônica do ditongo e da semivogal na estrutura da sílaba.

Vale lembrar que no ditongo existem sua vogal tônica – que não é necessariamente a tônica da palavra – e a semivogal. Assim, em “ca-ra-gua-tá”, o “a” assinalado é a vogal tônica do ditongo /wa/ e não é a tônica da palavra, que é o último “a”, em “tá”. Dizemos “vogal tônica do ditongo” porque, na verdade, a semivogal é também vogal. Então, no ditongo, há a vogal tônica e a semivogal, átona.

Muito bem: pelo critério acima mencionado, os ditongos classificam-se em crescentes e decrescentes. O que vem a ser isso? Veremos já.

Na estrutura da sílaba, existem três posições: o ápice ou centro da sílaba – sempre ocupado por vogal – e as encostas ou laterais: o aclive, a encosta em que se situa o fonema ou fonemas que antecedem a vogal, e o declive, encosta em que se localiza o fonema ou fonemas que a seguem. Vejamos como isso se passa em alguns exemplos de estrutura da sílaba::

Saiba que nem todas as sílabas possuem fonemas nessas três posições: há sílabas que têm fonema no aclive e ápice (“pa”, em “ca-pa”); outras, no ápice e declive (“ar”, em “ar-co”) e outras só no ápice (“a”, em “a-mor”).

Agora, você vai ver alguns exemplos de fonemas na estrutura de sílabas que apresentam elementos nas três posições. Tomemos, nas palavras “bo-lor”, “fil-tro” e “de-mais”, as sílabas “lor”, “fil” e “mais”. No alfabeto fonético (que representa tecnicamente os fonemas), elas são escritas /lor/, /fil/ e /mays/. Vejamos agora como essas sílabas dispõem-se nos diagramas que as representam:

Repare que as vogais sempre ocupam o ápice ou centro da sílaba. Nesta altura, você deve-se estar perguntando: ué, onde estão os ditongos crescentes e decrescentes? Calma, estamos quase chegando lá. A explicação que acabou de ser dada é necessária para o entendimento do que vem a seguir.

Acreditamos você haver notado que o último exemplo de sílaba – /mays/ – contém ditongo. Se pensou isso, acertou. Realmente, na sílaba /mays/, existe o ditongo /ay/. Observe que, no diagrama, a vogal, /a/, do ditongo ocupou o ápice e a semivogal, /y/, o declive. É assim mesmo que as coisas se passam: a vogal tônica do ditongo está sempre no ápice ou centro da sílaba e as semivogais (/y/ = “i” ou /w/ = “u”), no aclive ou declive. Bem, agora chegamos ao ponto que interessa: a posição, na estrutura da sílaba, dos fonemas que compõem os ditongos.

Sejam as palavras “de-pois”, “co-meu”, “i-gual” e “gló-rias”. No alfabeto fonético, as sílabas assinaladas são escritas assim: /poys/ - /mew/ - /gwal/ - /ryas/. Sua estrutura é a mostrada pelos seguintes diagramas:

Você, com sua esperteza, já percebeu que todas essas sílabas contêm ditongos. Pois é isso mesmo. Na sílaba 1, o ditongo é /oy/ = oi; na 2, é /ew/ = eu; na 3, /wa/ = ua e na 4, /ya/ = ia.

Pela observação dos diagramas, constatamos que nas sílabas 1 e 2 a semivogal está no declive. Portanto, depois da vogal, que está no ápice. Então, da posição em que estão as vogais /o/ e /e/ até o declive, onde se encontram as semivogais /y/ e /w/, há decréscimo, ou seja, descemos.

Já nas sílabas 3 e 4 vemos que as semivogais estão no aclive; portanto, antes da vogal, que está no ápice. Da posição em que se localizam as semivogais /w/ e /y/ até o ápice, onde está a vogal /a/, há subida, isto é, crescimento.

Agora, ficou fácil entender por que se diz que os ditongos podem ser “crescentes” e “decrescentes”, não ficou? Assim, o ditongo é crescente quando a semivogal está no aclive, antes da vogal e, portanto, cresce-se da encosta (aclive) para o topo (ápice) da sílaba. Ele é decrescente quando a semivogal situa-se no declive, depois da vogal e desse modo decresce-se do ápice para a encosta (declive) da sílaba. Você pode ainda perguntar: cresce e decresce o quê? A intensidade da emissão sonora: da semivogal (fraca) para a vogal (forte) há crescimento da intensidade do som vocal. Da vogal (forte) para a semivogal (fraca), há decréscimo.

Exemplos de mais palavras que contêm ditongos crescentes: “á-gua”, “ân-sia”, “lí-rio”, “qua-se”, “sa-güi”, etc.

Palavras em que há ditongos decrescentes: “boi”, “con-tei”, “fu-giu”, “rou-pa”, “sau-da-de”, etc.

A compreensão de tudo isso certamente ajuda a entender uma das regras de acentuação gráfica, a que diz que as palavras paroxítonas terminadas em ditongo crescente são sempre acentuadas, caso dos exemplos já vistos “água”, “ânsia”, “lírio”, etc. Para ler mais sobre esse tema, clique aqui.

Leia mais em:
Estrutura da língua portuguesa, de Joaquim Mattoso Camara Júnior, p. 45-46.
Nova gramática do português contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, p. 48-49 e 70.
Novíssima gramática da língua portuguesa, de Domingos Paschoal Cegalla, p. 26-27 e 71.
Novo guia ortográfico, de Celso Pedro Luft, p. 1.


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