Invariabilidade do advérbio
Todos nós estudamos e os professores ensinamos que
o advérbio é classe de palavras invariável.
Assim, ele não se flexiona em gênero (masculino/feminino)
nem em número (singular/plural).
Consta também que o advérbio, por ser invariável,
não está sujeito a variações de
grau (diminutivo, aumentativo, superlativo). Entretanto, não
é isso que se vê no dia-a-dia da língua.
Há uma série de variações de
grau que atingem o advérbio, palavra que se pode situar
no grau comparativo e no superlativo. Assim, podemos, com
uso de advérbio, expressar idéias de comparação
de igualdade (com auxílio de “tão”
e “como” ou “quanto”), superioridade
(valendo-nos de “mais” e “que” ou
“do que”) e inferioridade (com emprego de “menos”
e “que” ou “do que”): “Norma
chegou tão cedo como (ou “quanto”)
Mercedes”, “Norma chegou mais cedo que
(ou “do que”) Mercedes” e “Mercedes
chegou menos cedo que (ou “do que”)
Norma”.
O advérbio pode ainda variar no grau superlativo:
“Nas férias, Gabriel estudou pouco e Vanessa,
pouquíssimo”, “O Corinthians
vai muitíssimo bem” e
“O foguete subiu rapidissimamente”.
O advérbio assume amiúde a forma diminutiva
mediante o emprego dos sufixos “-inho” ou “-zinho”.
Veja se não lhe parecem familiares frases como “Daniela
saiu agorinha mesmo”, “Luzia
finalmente conseguiu ficar juntinho de Joaquim”,
“O navio partiu cedinho”, “A
biblioteca fica pertinho da reitoria”,
“O sítio do Nelson é bem longinho
daqui”, etc.
Nesses casos, os falantes, ao arrepio da vontade dos gramáticos,
aplicam, com função enfática, o diminutivo
nesses advérbios. Em outras palavras, põem ênfase
neles. Em conseqüência, as idéias que essas
formas adverbiais transmitem adquirem mais intensidade: “agorinha
= exatamente agora, há poucos minutos”,
“juntinho = muito junto, bem próximo”,
“cedinho = muito cedo”, “pertinho
= muito perto”, “longinho = um
bocado longe”.
Os doutores da língua consideram serem essas formas
próprias da linguagem familiar ou coloquial
e, conseqüentemente, recomendam sejam evitadas no padrão
formal. Contudo, elas já se começam
a insinuar nos textos de escritores conhecidos. A “Nova
gramática do português contemporâneo”
oferece vários exemplos delas:
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“Vem cedinho, vem
logo que amanheça!” (E. de Castro, “Últimos
versos”). |
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“Era mais de meia-noite quando ele entrou lento,
devagarinho” (Coelho Netto, “Obra
seleta”). |
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“Só faltaram os mapas de Marte, diz baixinho”
(M. J. de Carvalho, “Tempo de mercês”).
Neste exemplo, “baixo” é adjetivo em
função adverbial, já que modifica
a flexão verbal “diz”. Leia mais sobre
isso clicando aqui. |
Por tudo o que há pouco vimos, melhor seria os especialistas
reverem o conceito de invariabilidade do advérbio.
Poderiam inclusive admitir como correta, ainda que de forma
limitada, mas também na escrita, a flexão da
citada classe de palavras.
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