O artigo definido e a determinação
do substantivo
Fator importante para a compreensão dos textos é
a leitura atenta da presença ou ausência do artigo
definido: “o”, “a”, “os”,
“as”. Na elaboração textual, a colocação
ou não de exemplares dessa classe de palavras vai,
em alguns casos, ser fundamental para a ocorrência da
crase.
Comecemos por constatar que o artigo definido determina o
substantivo, ou seja, indica que se trata de algo ou alguém
determinado, que se conhece, como em ‘Vejo o
pai da Vanessa" e “Trata-se da
Sílvia, a ruiva mais linda da
capital federal”. Se só há uma secretaria,
podemos dizer que “Jair perguntou onde ficava a
Secretaria da escola”.
Do mesmo modo, o artigo acompanha nome de que se sabe ou
de que já se falou antes. Assim, construímos
“Emerson estava com um copo de vinho na mão quando
Tânia se aproximou. Continuou a segurar o
copo e olhou-a nos olhos” e “Afonso estava no
zoológico com o garoto Adilan, diante da jaula do leão.
O pai explicou calmamente ao
filho alguns hábitos do felino”. Se pergunto
“Onde está o dinheiro?”,
depreende-se que se trata de dinheiro do qual já se
sabe. E mais: “É o presidente mais popular da
história do País”. Por
já se saber de qual país se trata, usa-se o
artigo e coloca-se “P” em “País”.
“Conheço Hamilton desde os tempos do
colégio” e “Acho que Daisy estava com problema
na cabeça”. Sabemos de qual
colégio estamos falando. Quanto a Daisy, a referência
é obviamente à cabeça dela, pois não
poderia estar com problema na cabeça dos outros.
Tratando-se de pessoas, quando não se tem conhecimento
ou intimidade suficiente ou se quer manter alguma distância
formal, não se usa o artigo, como em “A dissertação
de Carlos Mamede (em vez de “do
Carlos”) teve aprovação unânime”
e “Foi eloqüente a fala de dom
João Braz de Aviz” (e não, “do
dom João”).
Usa-se também o artigo definido quando queremos passar
a idéia de totalidade e não, de parte dela,
como neste exemplo que vimos há pouco: “O pai
explicou calmamente ao filho os hábitos
do felino”. Se a estrutura fosse “O pai explicou
calmamente ao filho hábitos do felino”, sem o
“os”, entenderíamos que teriam sido explicados
parte dos hábitos e não, todos. É o mesmo
caso de “Vi os empregados saírem”.
Caso escrevêssemos “Vi empregados saírem”,
a referência seria apenas a parte dos empregados e não,
a todos.
Veja agora mais dois casos de uso ou não do artigo
definido. Repare na diferença entre “Felipe vai
voltar para casa” e “Felipe vai voltar para a
casa”. Na primeira frase, queremos dizer que Felipe
vai voltar para o lar, para o lugar em que mora, independentemente
do tipo de construção de que se trate. Já
na segunda, a volta é para o tipo de edificação
denominado “casa”, de um ou dois pavimentos, da
mesma forma que diríamos “Felipe esteve na
casa”. Contudo, se acrescentarmos algum qualificativo,
tal oração poderá readquirir o primeiro
sentido, como em “Felipe vai voltar para a
casa dos pais”, em que não se sabe se
se trata de casa térrea ou apartamento. Concluímos,
pois, que no sentido de lar, lugar onde se mora,
“casa” geralmente não é acompanhada
de artigo: “Ficaremos em casa”, “Saímos
de casa”.
Examinemos agora outro aspecto: quando o emprego ou não
do artigo feminino acarreta a colocação ou ausência
do acento grave indicador de crase. Em “Dirigiu-se a
alunas da classe” (parte das alunas), o “a”
é preposição, que faz parte da regência
do verbo “dirigir-se“ (dirigir-se a algum
lugar). Se, porém, dizemos “Dirigiu-se a
+ as alunas da classe”, quero dizer
que alguém dirigiu-se a todas as alunas da classe.
Neste caso, o “a” preposição vai-se
fundir com o “as”, artigo, por crase: “Dirigiu-se
às alunas da classe”. Outro
exemplo é “O fiscal referiu-se a maçãs
da banca do Cícero”. Não foi utilizado
o artigo definido feminino antes de “maçãs”
e assim entendemos que o fiscal se referiu a algumas maçãs
apenas. Entretanto, se empregamos o artigo, o entendimento
é o de que o fiscal referiu-se a todas elas. Aí
haverá crase também: “O fiscal referiu-se
a + as maçãs da banca
do Cícero = O fiscal referiu-se às
maçãs da banca do Cícero”.
Às vezes, usamos o artigo definido em caráter
expressivo, para realçar algo ou alguém, como
em “Ele não é apenas bom, ele é
o bom” e “João Guimarães
é o cara”. Vieira possui trecho
muito elucidativo do que ora falamos: “Os outros também
eram seus filhos, não o negara Jacó; mas o
seu filho era José. Vai muito de ser filho a ser o
seu filho” (ALMEIDA, 1999, § 243, Obss., 1.ª).
Celso Cunha chama este uso de “artigo de notoriedade”.
É bom ficar claro que não se explorou nesta
página toda a teoria do artigo, mesmo do definido.
O foco foi dado apenas na função determinativa
dessa classe de palavras. Para conhecimento completo do assunto,
é necessário seu estudo em boa gramática,
como as abaixo indicadas.
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