Concordância e ordem direta
A sintaxe portuguesa estabelece a seguinte ordem, considerada
“natural”, dos termos essenciais da oração:
sujeito, predicado e complemento. É
a ordem direta. O estudo em boa gramática esclarecerá
o sentido desses termos técnicos.
Tal estudo revelará também quais os tipos de
ajuste – a concordância – que deve
haver entre aqueles termos. Assim, a concordância é
verbal quando o verbo se harmoniza com o sujeito e
nominal, quando o adjetivo se ajusta ao substantivo;
o predicativo, ao sujeito e o pronome, ao
nome a que se refere.
O que nos interessa agora é saber como a ordem direta
ajuda a precisar a concordância, tanto a verbal como
a nominal. Comecemos pela verbal.
Muitas vezes, ficamos em dúvida ou mesmo incorremos
em erro de concordância por estarem aqueles termos na
ordem inversa. É o caso de “Consta algumas informações
importantes no texto”. Localizamos o sujeito perguntando
ao verbo quem ou o que praticou tal ou qual ação
ou quem está em determinado estado. Sobre a oração
acima, interrogamos: o que consta? A resposta é: algumas
informações importantes. Portanto, o sujeito
dessa oração é “algumas informações
importantes”, que está posicionado depois do
predicado – na ordem inversa, pois –, este constituído
da forma verbal “consta” e do adjunto adverbial
“no texto”. Na ordem direta, a construção
fica: “Algumas informações importantes
consta no texto”. Vemos então
que alguma coisa está errada: se o sujeito está
no plural, o verbo – que deve concordar com ele –
precisa também ficar no plural. Em conseqüência,
mantida a ordem inversa, temos: “Constam
algumas informações importantes no texto”.
Vejamos a oração “Há
de concorrer para isso, certamente, além da fé,
outros fatores que proporcionam estabilidade emocional
às pessoas”. A antecipação
do predicado e seu distanciamento do sujeito facilitam a falta
de concordância. Vamos pôr os termos da oração
principal em seus devidos lugares, ou seja, na ordem direta:
“Outros fatores há de
concorrer certamente para isso além da fé”.
Não há concordância, vê-se claramente.
O sujeito plural, “outros fatores”, requer o verbo
também no plural. Por isso, temos de construir “Outros
fatores hão de concorrer certamente
para isso além da fé”.
Outro exemplo: “Que entre os bons,
pois os melhores estão saindo". Parte da estrutura
está na ordem inversa. É só pormos os
termos na ordem direta e a concordância torna-se clara:
“Que os bons entrem, pois os
melhores estão saindo". Como o sujeito é
plural, "os bons", o verbo deve necessariamente
concordar com ele e também ir para o plural: "entrem".
Agora, dois exemplos de concordância nominal:
Tomemos a oração “Foi dado
ciência ao delegado de plantão". Coloquemo-la
na ordem direta: “Ciência foi dado
ao delegado de plantão”. Não está
certo, não é? O correto, pois, é "Ciência
foi dada ao delegado de plantão"
ou, na ordem anterior, "Foi dada ciência
ao delegado de plantão". É o mesmo caso
de "Foi dada voz de prisão".
Nos dois exemplos, o particípio (dada), que integra
o predicativo, tem função adjetiva e por isso
concorda com o substantivo ao qual se liga (ciência,
voz de prisão). Concluímos que na ordem direta
isso fica mais evidente.
Mais esta: "Vem sendo apresentada
inúmeras denúncias de mau comportamento".
Na ordem direta, a oração fica: "Inúmeras
denúncias de mau comportamento vem
sendo apresentada". Constatamos claramente
que o predicativo (apresentada) não concordou com o
sujeito (inúmeras denúncias de mau comportamento),
como deveria. Notamos também que não houve concordância
verbal, pois a forma “vêm”
é que precisaria ser empregada para concordar com o
citado sujeito. A construção correta, portanto,
é "Vêm sendo apresentadas
inúmeras denúncias de mau comportamento".
Então, você já sabe: quando tiver dúvida
sobre concordância, verifique se os termos da oração
encontram-se na ordem direta. Se não estiverem, ponha-os
– sujeito, predicado (verbo) e complemento – e
as coisas ficarão mais claras.
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