Dica n.º 161 - Sexta, 30.05.2008
www.paulohernandes.pro.br
 
 
 
 
 

Concordância e ordem direta

A sintaxe portuguesa estabelece a seguinte ordem, considerada “natural”, dos termos essenciais da oração: sujeito, predicado e complemento. É a ordem direta. O estudo em boa gramática esclarecerá o sentido desses termos técnicos.

Tal estudo revelará também quais os tipos de ajuste – a concordância – que deve haver entre aqueles termos. Assim, a concordância é verbal quando o verbo se harmoniza com o sujeito e nominal, quando o adjetivo se ajusta ao substantivo; o predicativo, ao sujeito e o pronome, ao nome a que se refere.

O que nos interessa agora é saber como a ordem direta ajuda a precisar a concordância, tanto a verbal como a nominal. Comecemos pela verbal.

Muitas vezes, ficamos em dúvida ou mesmo incorremos em erro de concordância por estarem aqueles termos na ordem inversa. É o caso de “Consta algumas informações importantes no texto”. Localizamos o sujeito perguntando ao verbo quem ou o que praticou tal ou qual ação ou quem está em determinado estado. Sobre a oração acima, interrogamos: o que consta? A resposta é: algumas informações importantes. Portanto, o sujeito dessa oração é “algumas informações importantes”, que está posicionado depois do predicado – na ordem inversa, pois –, este constituído da forma verbal “consta” e do adjunto adverbial “no texto”. Na ordem direta, a construção fica: “Algumas informações importantes consta no texto”. Vemos então que alguma coisa está errada: se o sujeito está no plural, o verbo – que deve concordar com ele – precisa também ficar no plural. Em conseqüência, mantida a ordem inversa, temos: “Constam algumas informações importantes no texto”.

Vejamos a oração “ de concorrer para isso, certamente, além da fé, outros fatores que proporcionam estabilidade emocional às pessoas”. A antecipação do predicado e seu distanciamento do sujeito facilitam a falta de concordância. Vamos pôr os termos da oração principal em seus devidos lugares, ou seja, na ordem direta: “Outros fatores de concorrer certamente para isso além da fé”. Não há concordância, vê-se claramente. O sujeito plural, “outros fatores”, requer o verbo também no plural. Por isso, temos de construir “Outros fatores hão de concorrer certamente para isso além da fé”.

Outro exemplo: “Que entre os bons, pois os melhores estão saindo". Parte da estrutura está na ordem inversa. É só pormos os termos na ordem direta e a concordância torna-se clara: “Que os bons entrem, pois os melhores estão saindo". Como o sujeito é plural, "os bons", o verbo deve necessariamente concordar com ele e também ir para o plural: "entrem".

Agora, dois exemplos de concordância nominal:

Tomemos a oração “Foi dado ciência ao delegado de plantão". Coloquemo-la na ordem direta: “Ciência foi dado ao delegado de plantão”. Não está certo, não é? O correto, pois, é "Ciência foi dada ao delegado de plantão" ou, na ordem anterior, "Foi dada ciência ao delegado de plantão". É o mesmo caso de "Foi dada voz de prisão". Nos dois exemplos, o particípio (dada), que integra o predicativo, tem função adjetiva e por isso concorda com o substantivo ao qual se liga (ciência, voz de prisão). Concluímos que na ordem direta isso fica mais evidente.

Mais esta: "Vem sendo apresentada inúmeras denúncias de mau comportamento". Na ordem direta, a oração fica: "Inúmeras denúncias de mau comportamento vem sendo apresentada". Constatamos claramente que o predicativo (apresentada) não concordou com o sujeito (inúmeras denúncias de mau comportamento), como deveria. Notamos também que não houve concordância verbal, pois a forma “vêm” é que precisaria ser empregada para concordar com o citado sujeito. A construção correta, portanto, é "Vêm sendo apresentadas inúmeras denúncias de mau comportamento".

Então, você já sabe: quando tiver dúvida sobre concordância, verifique se os termos da oração encontram-se na ordem direta. Se não estiverem, ponha-os – sujeito, predicado (verbo) e complemento – e as coisas ficarão mais claras.

Leia mais em:
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, § 791 e seguintes.
Moderna gramática portuguesa, de Evanildo Bechara, pp. 322-325.


Agora, verifique se você assimilou o conteúdo apresentado clicando aqui.