Através de
O emprego dessa locução prepositiva
costuma suscitar dúvidas e controvérsias, além
de muitas vezes ela ser utilizada de forma incorreta. Vejamos
como a norma culta prescreve seu uso.
Em primeiro lugar, não nos esqueçamos de esse
grupo vocabular ser escrito com “s” final. Em
segundo lugar, deve ficar claro que, para atender-se ao que
recomenda a Gramática, não é possível
a utilização de “através”
sem a necessária preposição “de”:
“através de”. Por isso,
são incorretas frases como “Ouvi a notícia
através o rádio”.
Depois, desfaçamos aqui equívoco em que incorre
muita gente desavisada, que não se aprofunda no estudo
e “chuta” opiniões sem base: dão
vazão ao mito segundo o qual a locução
“através de” só pode ser empregada
com o sentido de de um lado para o outro, ou seja,
com idéia física de movimento de lado a lado.
Essas pessoas ignoram que a língua evolui e que o sentido
das palavras e expressões altera-se conforme a vontade
do grupo falante. Além do mais, “através
de”, com a equivalência de “por meio de”,
“mediante” é abonada por escritores consagrados.
E ainda: entre os gramáticos eméritos brasileiros,
um dos mais conservadores e intransigentes foi o mestre Napoleão
Mendes de Almeida. Pois bem, em seu “Dicionário
de questões vernáculas”, ele escreve sobre
o assunto:
“Se
constitui erro empregar através de para
indicar o agente da passiva (O gol foi feito através
do jogador Tal), não se deve por outro lado
cair no exagero oposto de julgar que a locução
só é possível quando significa
‘de um lado para o outro’, ‘de lado
a lado’ (Passou através da multidão
– Passou a espada através do corpo).
Não vemos erro em: ‘A palavra veio-nos
do latim através do francês’”.
Portanto, podemos escrever com acerto: “Conheci Denise
através de apresentação
do Cláudio”, “Os vocábulos oriundos
do latim vulgar sofreram muitas alterações através
das mudanças fonéticas” e “As
instruções vieram-nos através
dos canais hierárquicos”.
Finalmente, os puristas condenam o emprego dessa locução
no agente da passiva. Segundo eles, devemos
evitar construções do tipo “Esses nomes
foram popularizados através dos meios
de comunicação” e “A orientação
foi transmitida através do gabinete
pessoal”, em que “meios de comunicação”
e “gabinete pessoal” são agentes da passiva.
Na estruturas sucedâneas, pode ser utilizada a preposição
“por”: “Esses nomes foram popularizados
pelos meios de comunicação”
e “A orientação foi transmitida pelo
gabinete pessoal”.
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