Frase nominal
Tradicionalmente, aprendemos que o termo “frase”
significa grupo de vocábulos que expressa uma idéia,
sem nada afirmar ou negar: "Tudo em paz?",
"Os Sertões" e “Antes tarde que nunca”
seriam frases. Desse modo, uma vez que a frase passe a afirmar,
negar ou questionar algo, converte-se em oração
e isso acontece com a presença do verbo.
Assim, podemos ser tentados a considerar como frases nominais
as em que o verbo não está explícito,
mas ele de fato existe. Está apenas subentendido ou,
como diz o prof. Francisco Dequi, “mentalizado”.
É por isso que aquela declaração inicial
deve, na verdade, ser acompanhada do advérbio “aparentemente”:
“a frase expressa idéia sem aparentemente
nada afirmar ou negar”.
Há inúmeras frases com verbo mentalizado ou
elíptico e nem por isso deixam de ser autênticas
orações, como podemos ver a seguir nos seguintes
provérbios:
- “Cada macaco, no seu galho.” = “(Que)
cada macaco (fique) no seu galho.”.
- “Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento.”
= "Por fora, (nós vemos)
bela viola; (o que existe) por dentro
(é na verdade) pão
bolorento.".
- “Vox populi, vox Dei.” = “Voz do povo,
voz de Deus.” = “(A) voz do povo (é
a) voz de Deus.”.
- “Lágrimas de herdeiros, risos secretos.”
= “Lágrimas de herdeiros (escondem)
risos secretos.”.
- “Filho criado, trabalho dobrado.” = “Filho
criado (representa) trabalho dobrado.”.
Observe que não por acaso aparece a vírgula
em todas essas frases. Ela marca justamente a elipse
do verbo.
Outros exemplos:
- “Que coisa!” = “Que coisa (chata
você está fazendo)!”.
- “Você por aqui?!” = “(Olhe,)
Você (está) por aqui?!”.
- “Tudo bem contigo?” = “Tudo (está)
bem contigo?”.
- “Que raiva!” = “Que raiva (eu
sinto)!”.
- “Que beleza!” = (Olhe) Que
beleza (é isso)!”.
Nas orações ditas “semióticas”,
parece que temos frase nominal, mas sem dúvida o verbo
está subentendido e este variará conforme a
situação:
- “Socorro!” = “(Eu peço)
Socorro!”.
- “Fogo!” = “(Façam)
Fogo!” ou “(Vejam o)
Fogo!”.
- “Cuidado!” = “(Tome)
Cuidado!”.
- “Silêncio!” = “(Façam)
Silêncio!”.
- “Ladrão!” = “(Peguem
o) Ladrão!”. No campo de futebol: “Ladrão!”
= “(Esse juiz é) Ladrão!”.
Os títulos de obras quase sempre apresentam o verbo
mentalizado:
- “Literatura luso-brasileira” = “(Este
livro contém) ‘Literatura
luso-brasileira’.”.
- “Dom Casmurro” = “(Este livro
apresenta o romance) Dom Casmurro.”.
- “Semântica lexical” = “(Esta
obra trata de) Semântica
lexical.”.
Placas e letreiros com as denominações de empresas,
organizações, edifícios encerram verbo
subentendido:
- “Banco do Brasil” = “(Aqui funciona
o) Banco do Brasil.”.
- “ANVISA” = “(Aqui funciona
a) ANVISA (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária).”.
- “Marina Tower” = “(Este é
o edifício) Marina Tower.”.
- “D” = “(Este é
o bloco) D (denominação de um dos milhares
de prédios de apartamentos existentes no Distrito
Federal).”.
- “Universidade de Brasília” = “(Este
é o campus da) Universidade
de Brasília.”.
As respostas a perguntas são, com muita freqüência,
frases aparentemente nominais:
- “Você já votou? Ainda não.”
= “(Eu) Ainda não (votei).”.
- “Vocês já leram ‘Sintagramática’?
Já.” = “(Nós) Já
(lemos ‘Sintagramática’).”.
- “Por onde eles foram? Por ali.” = “(Eles
foram) Por ali.”.
- “Que houve depois da palestra? Nada.” = (Não
houve) Nada (depois da palestra).”.
- “Laurinha, quem fez isso? A Cátia.”
= “(Quem fez isso foi)
A Cátia.”.
Em muitos períodos, aparecem frases em que o verbo
fica claramente subentendido por já haver sido expresso
anteriormente. O verbo existe, mas é omitido em virtude
da figura de sintaxe chamada “zeugma”,
que também pode abranger outros termos:
- “Carlos gosta de jazz e Paulo, de rock.” =
“Carlos gosta de jazz e Paulo (gosta)
de rock.”.
- “Sou tão inteligente quanto você.”
= “(Eu) Sou tão inteligente quanto você
(é inteligente).”.
- “Ele chama-se Celso e ela, Tânia.” =
“Ele chama-se Celso e ela (chama-se)
Tânia.”.
- “O inimigo foi vencido e os prisioneiros, soltos.”
= “O inimigo foi vencido e os prisioneiros (foram)
soltos.”.
- “Sou o que sou e não, o que dizem.”
= “(Eu) Sou o que (eu) sou e (eu)
não (sou) o que (eles) dizem.”.
Vimos então, por todos esses exemplos, que não
existe frase propriamente “nominal”, mas verdadeira
oração em que o verbo está subentendido,
oculto ou mentalizado. Essa omissão dá-se geralmente
devido à lei do menor esforço: se o termo é
claramente entendido, embora não explícito,
deixa de ser enunciado e o sentido não se prejudica.
A proposta teórica focalizada nesta página,
de autoria do professor Francisco Dequi, consiste em uma das
teses apresentadas na obra mencionada logo abaixo, da qual
foram retirados alguns dos exemplos de frases aqui registrados.
Contatos com o mestre podem ser estabelecidos através
do saite http://www.ipuc.com.br/portugues/
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