Dica n.º 151 - Sexta, 29.06.2007
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Frase nominal

Tradicionalmente, aprendemos que o termo “frase” significa grupo de vocábulos que expressa uma idéia, sem nada afirmar ou negar: "Tudo em paz?", "Os Sertões" e “Antes tarde que nunca” seriam frases. Desse modo, uma vez que a frase passe a afirmar, negar ou questionar algo, converte-se em oração e isso acontece com a presença do verbo.

Assim, podemos ser tentados a considerar como frases nominais as em que o verbo não está explícito, mas ele de fato existe. Está apenas subentendido ou, como diz o prof. Francisco Dequi, “mentalizado”. É por isso que aquela declaração inicial deve, na verdade, ser acompanhada do advérbio “aparentemente”: “a frase expressa idéia sem aparentemente nada afirmar ou negar”.

Há inúmeras frases com verbo mentalizado ou elíptico e nem por isso deixam de ser autênticas orações, como podemos ver a seguir nos seguintes provérbios:

  • “Cada macaco, no seu galho.” = “(Que) cada macaco (fique) no seu galho.”.
  • “Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento.” = "Por fora, (nós vemos) bela viola; (o que existe) por dentro (é na verdade) pão bolorento.".
  • “Vox populi, vox Dei.” = “Voz do povo, voz de Deus.” = “(A) voz do povo (é a) voz de Deus.”.
  • “Lágrimas de herdeiros, risos secretos.” = “Lágrimas de herdeiros (escondem) risos secretos.”.
  • “Filho criado, trabalho dobrado.” = “Filho criado (representa) trabalho dobrado.”.

Observe que não por acaso aparece a vírgula em todas essas frases. Ela marca justamente a elipse do verbo.

Outros exemplos:

  • “Que coisa!” = “Que coisa (chata você está fazendo)!”.
  • “Você por aqui?!” = “(Olhe,) Você (está) por aqui?!”.
  • “Tudo bem contigo?” = “Tudo (está) bem contigo?”.
  • “Que raiva!” = “Que raiva (eu sinto)!”.
  • “Que beleza!” = (Olhe) Que beleza (é isso)!”.

Nas orações ditas “semióticas”, parece que temos frase nominal, mas sem dúvida o verbo está subentendido e este variará conforme a situação:

  • “Socorro!” = “(Eu peço) Socorro!”.
  • “Fogo!” = “(Façam) Fogo!” ou “(Vejam o) Fogo!”.
  • “Cuidado!” = “(Tome) Cuidado!”.
  • “Silêncio!” = “(Façam) Silêncio!”.
  • “Ladrão!” = “(Peguem o) Ladrão!”. No campo de futebol: “Ladrão!” = “(Esse juiz é) Ladrão!”.

Os títulos de obras quase sempre apresentam o verbo mentalizado:

  • “Literatura luso-brasileira” = “(Este livro contém) ‘Literatura luso-brasileira’.”.
  • “Dom Casmurro” = “(Este livro apresenta o romance) Dom Casmurro.”.
  • “Semântica lexical” = “(Esta obra trata de) Semântica lexical.”.

Placas e letreiros com as denominações de empresas, organizações, edifícios encerram verbo subentendido:

  • “Banco do Brasil” = “(Aqui funciona o) Banco do Brasil.”.
  • “ANVISA” = “(Aqui funciona a) ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).”.
  • “Marina Tower” = “(Este é o edifício) Marina Tower.”.
  • “D” = “(Este é o bloco) D (denominação de um dos milhares de prédios de apartamentos existentes no Distrito Federal).”.
  • “Universidade de Brasília” = “(Este é o campus da) Universidade de Brasília.”.

As respostas a perguntas são, com muita freqüência, frases aparentemente nominais:

  • “Você já votou? Ainda não.” = “(Eu) Ainda não (votei).”.
  • “Vocês já leram ‘Sintagramática’? Já.” = “(Nós) Já (lemos ‘Sintagramática’).”.
  • “Por onde eles foram? Por ali.” = “(Eles foram) Por ali.”.
  • “Que houve depois da palestra? Nada.” = (Não houve) Nada (depois da palestra).”.
  • “Laurinha, quem fez isso? A Cátia.” = “(Quem fez isso foi) A Cátia.”.

Em muitos períodos, aparecem frases em que o verbo fica claramente subentendido por já haver sido expresso anteriormente. O verbo existe, mas é omitido em virtude da figura de sintaxe chamada “zeugma”, que também pode abranger outros termos:

  • “Carlos gosta de jazz e Paulo, de rock.” = “Carlos gosta de jazz e Paulo (gosta) de rock.”.
  • “Sou tão inteligente quanto você.” = “(Eu) Sou tão inteligente quanto você (é inteligente).”.
  • “Ele chama-se Celso e ela, Tânia.” = “Ele chama-se Celso e ela (chama-se) Tânia.”.
  • “O inimigo foi vencido e os prisioneiros, soltos.” = “O inimigo foi vencido e os prisioneiros (foram) soltos.”.
  • “Sou o que sou e não, o que dizem.” = “(Eu) Sou o que (eu) sou e (eu) não (sou) o que (eles) dizem.”.

Vimos então, por todos esses exemplos, que não existe frase propriamente “nominal”, mas verdadeira oração em que o verbo está subentendido, oculto ou mentalizado. Essa omissão dá-se geralmente devido à lei do menor esforço: se o termo é claramente entendido, embora não explícito, deixa de ser enunciado e o sentido não se prejudica.

A proposta teórica focalizada nesta página, de autoria do professor Francisco Dequi, consiste em uma das teses apresentadas na obra mencionada logo abaixo, da qual foram retirados alguns dos exemplos de frases aqui registrados. Contatos com o mestre podem ser estabelecidos através do saite http://www.ipuc.com.br/portugues/ .

Leia mais em:
Neopedagogia da Gramática; dezoito teses surpreendentes, de Francisco Dequi.

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