Dica n.º 146 - Sexta, 29.12.2006
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Acentuação objetiva

Você acredita que as regras de acentuação gráfica que conhecemos podem-se resumir a uma só? O professor Francisco Dequi (IPUC, Canoas - RS) garante que sim. Vamos conhecer sua proposta?

A “acentuação objetiva” considera apenas a vogal tônica e não, a sílaba tônica. Tal sistema leva em conta também as vogais realmente pronunciadas e numera-as da direita para a esquerda, como abaixo:

     3   2    1        3       2   1         2           1         4    3    2 1          2 1
m e n i n o   –   a q u i l o  –  s a n g u –  c o r a ç õ e s  –  e u.

Recordamos que em todas as palavras estruturadas com mais de uma vogal há uma pronunciada com mais força, a tônica. Observe-se ainda que a semivogal é, de fato, vogal.


Primeira parte – Tonicidade regular ou natural. Roteiros da tonicidade das palavras sem acento gráfico

A tonicidade regular das palavras sem acento gráfico flui da direita para a esquerda e 100% de sua localização segue os seguintes roteiros:

  1. Se a terminação for das fracas ou átonas (a, e, o, am, em, ens), a tonicidade estará na vogal 2. Exemplos: datilografo, datilografas, datilografam, datilografe, datilografem, item, itens, publico, publicas, coco, cocos, celebre, domino, irmão, corações, porem, amaras, camelo.
  2. Se a terminação for do rol das demais (as não incluídas nos casos acima), ela será forte e a tonicidade fixar-se-á na vogal 1. Exemplos: abacaxi, urubu, urubus, barril, lençol, jasmim, jasmins, motor, audaz, feliz, revolver, algum, alguns, animal, semitom, semitons, sutil, sutis, repetir, anu, maçã, irmãos, veloz, talvez.
  3. Apesar dos dois roteiros anteriores, “i” e “u” quando antecedidos de vogal “encostada” (em ditongos ou hiatos) e não tendo apoio seu no lado direito (nasalização ou consoante sua) cedem a tonicidade para a vogal anterior – 2 ou 3 – encostada. Exemplos: flauta, leite, eu, ai, douto, doidos, ainda, sairdes, constituinte, transeunte, ruim, ruir, ruis, Raul, maus, saindo, Romeu, possui, possuis, maio, caiam.
    Nota: no processo de acentuação, o “s” final não influi.

Observação nossa: sublinhamos, por nossa conta, as vogais e consoantes que constituem dígrafos representantes de vogais nasais. Assim, por exemplo, “om” é grafia da vogal nasal /õ/.


Segunda parte – Tonicidade irregular ou deslocada

O acento gráfico, em 99,6% dos casos, anula a tonicidade natural verificada nos itens acima e tonifica outra vogal. Dito de outro modo: torna tônica a vogal que, sem o sinal, seria átona. Exemplos: sabia ® sabiá, sábia; camelo ® camelô; maio ® maiô; dai ® daí; fluido ® fluído; magoa ® mágoa; duvida ® dúvida; exercito ® exército; vicio ® vício; seria ® séria; doido ® doído; caiamos ® caíamos; cara ® cará; copia ® cópia.

Observação nossa: na verdade, o acento gráfico não “tonifica” a vogal, mas representa graficamente tonicidade que já existe. Ele não produz tonicidade, mas apenas indica algo que está lá. Mas vamos em frente.


Terceira parte – Sinais diferenciadores (0,4%) ou sinais não-deslocadores de tonicidade

  1. “É” e “ó” abertos em palavras monovocálicas e nos encontros (ditongos) abertos “éi”, “éu” e “ói” são sempre acentuados. Exemplos: pé, pó, nó, fé, ré, é, dó, nós, vós, só; seu/céu, apoio/apóio, reis/réis. Função desses sinais: apenas marcar timbre aberto. Não deslocam a tonicidade, pois ela já estava na vogal assinalada.
  2. Diferenciadores sintáticos, marcadores de plural: ele tem/eles têm, ele vem/eles vêm. O mesmo ocorre com verbos derivados: ele detém/eles detêm, ele provém/eles provêm.
  3. Diferenciadores morfológicos necessários: pode/pôde, por/pôr, de/dê, se/sê.


Quarta parte – Sinais inúteis

Em nossa ortografia oficial, há sinais inúteis, pois não têm qualquer objetivo na tonificação. Fora do contexto, sem acento, as palavras que os recebem teriam exatamente a mesma pronúncia. Exemplos: os vocábulos monovocálicos lá, vá, cá, má, lê, vê; flexões e substantivos derivados de verbos terminados em “oar”: magôo, vôo, enjôo, abotôo. E as quatro formas verbais crêem, dêem, lêem, vêem e seus compostos (descrêem, relêem, prevêem, etc.).

E aí? O que achou da acentuação objetiva? Experimente testá-la aplicando os roteiros descritos a outras palavras para ver se as afirmativas confirmam-se.


Leia mais em:
Para saber mais sobre o prof. Francisco Dequi e seu trabalho, acesse http://www.ipuc.com.br/portugues .

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