Acentuação
objetiva
Você acredita que as regras de acentuação
gráfica que conhecemos podem-se resumir a uma só?
O professor Francisco Dequi (IPUC, Canoas - RS) garante que
sim. Vamos conhecer sua proposta?
A “acentuação objetiva” considera
apenas a vogal tônica e não,
a sílaba tônica. Tal sistema
leva em conta também as vogais realmente pronunciadas
e numera-as da direita para a esquerda, como abaixo:
3 2
1 3 2
1 2
1
4 3
2 1 2
1 |
m e n i n o
– a q u i
l o – s a
n g u e – c o
r a ç õ
e s – e
u. |
Recordamos que em todas as palavras estruturadas com mais
de uma vogal há uma pronunciada com mais força,
a tônica. Observe-se ainda que a semivogal
é, de fato, vogal.
Primeira parte – Tonicidade
regular ou natural. Roteiros da tonicidade das palavras sem
acento gráfico
A tonicidade regular das palavras sem acento gráfico
flui da direita para a esquerda e 100% de sua localização
segue os seguintes roteiros:
- Se a terminação for das fracas ou átonas
(a, e, o, am, em, ens), a tonicidade estará
na vogal 2. Exemplos: datilografo,
datilografas, datilografam,
datilografe, datilografem,
item, itens, publico,
publicas, coco, cocos,
celebre, domino, irmão,
corações, porem,
amaras, camelo.
- Se a terminação for do rol das demais
(as não incluídas nos casos acima), ela será
forte e a tonicidade fixar-se-á na vogal 1. Exemplos:
abacaxi, urubu, urubus,
barril, lençol,
jasmim, jasmins,
motor, audaz, feliz,
revolver, algum,
alguns, animal,
semitom, semitons,
sutil, sutis, repetir,
anu, maçã,
irmãos, veloz,
talvez.
- Apesar dos dois roteiros anteriores, “i”
e “u” quando antecedidos de vogal “encostada”
(em ditongos ou hiatos)
e não tendo apoio seu no lado direito (nasalização
ou consoante sua) cedem a tonicidade para a vogal
anterior – 2 ou 3 – encostada. Exemplos: flauta,
leite, eu, ai,
douto, doidos, ainda,
sairdes, constituinte,
transeunte, ruim,
ruir, ruis, Raul,
maus, saindo, Romeu,
possui, possuis, maio,
caiam.
Nota: no processo de acentuação, o “s”
final não influi.
Observação
nossa: sublinhamos, por nossa conta, as vogais e consoantes
que constituem dígrafos representantes de vogais nasais.
Assim, por exemplo, “om”
é grafia da vogal nasal /õ/.
Segunda parte – Tonicidade irregular ou deslocada
O acento gráfico, em 99,6% dos casos, anula a tonicidade
natural verificada nos itens acima e tonifica outra vogal.
Dito de outro modo: torna tônica a vogal que, sem o
sinal, seria átona. Exemplos: sabia
® sabiá,
sábia; camelo
® camelô;
maio ® maiô;
dai ® daí;
fluido ® fluído;
magoa ® mágoa;
duvida ® dúvida;
exercito ®
exército; vicio
® vício;
seria ® séria;
doido ® doído;
caiamos ®
caíamos; cara
® cará;
copia ® cópia.
Observação
nossa: na verdade, o acento gráfico não “tonifica”
a vogal, mas representa graficamente tonicidade que já
existe. Ele não produz tonicidade, mas apenas indica
algo que está lá. Mas vamos em frente.
Terceira parte – Sinais diferenciadores (0,4%)
ou sinais não-deslocadores de tonicidade
- “É” e “ó” abertos
em palavras monovocálicas e nos encontros (ditongos)
abertos “éi”, “éu”
e “ói” são sempre acentuados.
Exemplos: pé, pó,
nó, fé,
ré, é, dó,
nós, vós,
só; seu/céu,
apoio/apóio, reis/réis.
Função desses sinais: apenas marcar timbre
aberto. Não deslocam a tonicidade, pois ela já
estava na vogal assinalada.
- Diferenciadores sintáticos, marcadores de plural:
ele tem/eles têm,
ele vem/eles vêm.
O mesmo ocorre com verbos derivados: ele detém/eles
detêm, ele provém/eles
provêm.
- Diferenciadores morfológicos necessários:
pode/pôde, por/pôr,
de/dê, se/sê.
Quarta parte – Sinais inúteis
Em nossa ortografia oficial, há sinais inúteis,
pois não têm qualquer objetivo na tonificação.
Fora do contexto, sem acento, as palavras que os recebem teriam
exatamente a mesma pronúncia. Exemplos: os vocábulos
monovocálicos lá, vá,
cá, má, lê,
vê; flexões e substantivos
derivados de verbos terminados em “oar”: magôo,
vôo, enjôo,
abotôo. E as quatro formas verbais
crêem, dêem,
lêem, vêem
e seus compostos (descrêem, relêem,
prevêem, etc.).
E aí? O que achou da acentuação objetiva?
Experimente testá-la aplicando os roteiros descritos
a outras palavras para ver se as afirmativas confirmam-se.
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