Emprego alternativo
de modos e tempos verbais
Uma das demonstrações da versatilidade que
os falantes vêem na língua portuguesa é
a possibilidade de empregar estilisticamente um modo ou tempo
verbal em lugar de outro com o mesmo sentido ou sentido aproximado.
Vejamos as substituições que são normalmente
efetuadas:
Modo indicativo
• Presente no lugar do |
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Pretérito perfeito simples, como seria
o esperado. Assim, em “D. Pedro saca
da espada e brada: Independência
ou morte!”, o usual seria sacou e bradou,
formas do pretérito perfeito, o qual expressa ação
realizada e acabada. Contudo, por razões estilísticas,
preferimos o presente com valor de passado. |
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Futuro do presente simples, como em “Quero
ver se amanhã ele fala
grosso assim”. Pela presença do advérbio
de tempo amanhã, percebemos nitidamente
que se trata de ação que ainda será
praticada; portanto, o tempo adequado seria o futuro do
presente simples do indicativo: “Quero ver se amanhã
ele falará...”. Entretanto,
empregamos o presente com o mesmo efeito. |
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Imperativo – O presente pode ainda ter
valor de imperativo atenuado: “Você vai
lá agora, pega o dinheiro e deposita-o
no Banco do Brasil”, em vez de vá,
pegue e deposite. |
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O pretérito imperfeito é largamente utilizado
na língua oral – e mesmo em textos de escritores
renomados ao reproduzirem a fala comum – em vez
do futuro do pretérito para indicar hipótese
ou possibilidade, como em “Se eu fosse você,
não fazia isso”, em lugar
de “não faria isso”.
Da mesma forma: “Eu queria que
ela fosse lá agora”, no lugar de “Eu
quereria...”, pois se o verbo fosse
“gostar” a frase naturalmente seria: “Eu
gostaria que ela fosse lá agora”.
E mais: “O patrão é porque não
tem força. Tivesse ele os meios e isto virava
um fazendão (em vez de viraria) –
Monteiro Lobato, Urupês”. |
• Mais-que-perfeito |
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Emprego elegante e literário costuma ter o
mais-que-perfeito em vez do pretérito imperfeito
do subjuntivo. Assim, em
“Que
excedem Rodamonte e o vão Rugeiro
E Orlando, inda
que fora verdadeiro.“
(CAMÕES,
Os lusíadas, I, 11:7-8), o poeta prefere fora
(mais-que-perfeito) em vez de fosse (subjuntivo).
Graciliano Ramos faz esse uso em “São Bernardo”:
“Quem me dera (desse)
ser como Casimiro Lopes!”. Gonzaguinha também
faz uso desse recurso em "Redescobrir": "Como
se fora (fosse) brincadeira
de roda, memória...".
Na linguagem usual, constatamos esse emprego em expressões
como “Tomara que isso fosse verdade
(tomasse)”, “Quisera
Deus... (quisesse)”
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• Futuro do presente |
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Imperativo – O futuro do presente pode
substituir o imperativo, como em “Honrarás
pai e mãe”, “Não matarás”
e “Realizada a tarefa, vocês retornarão
aqui para receber a senha”, em lugar de honra,
não mates e retornem. |
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Presente – O futuro do presente também
pode substituir o presente e assim em vez de certeza,
característica desse tempo, temos incerteza, possibilidade:
“Onde será que fica a tal
rua?”, “Será ele quem
vem lá?” e "Em que canto Marina estará
agora?". |
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Futuro do pretérito ou pretérito
simples – O futuro do presente pode ser empregado
no lugar do futuro do pretérito ou do pretérito
simples para indicar ocorrência futura em tempo
passado, como em “Ainda decorrerão
dez anos para o jovem príncipe Pedro de Alcântara
tornar-se Pedro II” (em vez de decorreriam)
e “Paulo começou a trabalhar em 1962 e daí
até aposentar-se cumprirá
30 anos na carreira que escolheu (em lugar de cumpriu)”.
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Modo subjuntivo
• Presente |
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Quando indica desejo, substitui a terceira pessoa do
imperativo, como em “(Que) Viva
o presidente!”, “(Que) Vivam
os noivos!”. |
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Infinitivo
• Não-flexionado ou impessoal |
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Pode ter sentido de imperativo: “Direita, volver!”,
“Passar bem” e “Ver
a pág. 15”, em lugar de volva ou
volvam, passe ou passem, veja. |
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