Dica n.º 120 - Sexta, 29.10.2004
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Emprego alternativo de modos e tempos verbais

Uma das demonstrações da versatilidade que os falantes vêem na língua portuguesa é a possibilidade de empregar estilisticamente um modo ou tempo verbal em lugar de outro com o mesmo sentido ou sentido aproximado. Vejamos as substituições que são normalmente efetuadas:

Modo indicativo
Presente no lugar do
  - Pretérito perfeito simples, como seria o esperado. Assim, em “D. Pedro saca da espada e brada: Independência ou morte!”, o usual seria sacou e bradou, formas do pretérito perfeito, o qual expressa ação realizada e acabada. Contudo, por razões estilísticas, preferimos o presente com valor de passado.
  - Futuro do presente simples, como em “Quero ver se amanhã ele fala grosso assim”. Pela presença do advérbio de tempo amanhã, percebemos nitidamente que se trata de ação que ainda será praticada; portanto, o tempo adequado seria o futuro do presente simples do indicativo: “Quero ver se amanhã ele falará...”. Entretanto, empregamos o presente com o mesmo efeito.
  - Imperativo – O presente pode ainda ter valor de imperativo atenuado: “Você vai lá agora, pega o dinheiro e deposita-o no Banco do Brasil”, em vez de , pegue e deposite.
Pretérito imperfeito
  O pretérito imperfeito é largamente utilizado na língua oral – e mesmo em textos de escritores renomados ao reproduzirem a fala comum – em vez do futuro do pretérito para indicar hipótese ou possibilidade, como em “Se eu fosse você, não fazia isso”, em lugar de “não faria isso”. Da mesma forma: “Eu queria que ela fosse lá agora”, no lugar de “Eu quereria...”, pois se o verbo fosse “gostar” a frase naturalmente seria: “Eu gostaria que ela fosse lá agora”. E mais: “O patrão é porque não tem força. Tivesse ele os meios e isto virava um fazendão (em vez de viraria) – Monteiro Lobato, Urupês”.
Mais-que-perfeito
 

Emprego elegante e literário costuma ter o mais-que-perfeito em vez do pretérito imperfeito do subjuntivo. Assim, em
     “Que excedem Rodamonte e o vão Rugeiro
      E Orlando, inda que fora verdadeiro.“

             (CAMÕES, Os lusíadas, I, 11:7-8), o poeta prefere fora (mais-que-perfeito) em vez de fosse (subjuntivo). Graciliano Ramos faz esse uso em “São Bernardo”: “Quem me dera (desse) ser como Casimiro Lopes!”. Gonzaguinha também faz uso desse recurso em "Redescobrir": "Como se fora (fosse) brincadeira de roda, memória...".

Na linguagem usual, constatamos esse emprego em expressões como “Tomara que isso fosse verdade (tomasse)”, “Quisera Deus... (quisesse)”

Futuro do presente
  - Imperativo – O futuro do presente pode substituir o imperativo, como em “Honrarás pai e mãe”, “Não matarás” e “Realizada a tarefa, vocês retornarão aqui para receber a senha”, em lugar de honra, não mates e retornem.
  - Presente – O futuro do presente também pode substituir o presente e assim em vez de certeza, característica desse tempo, temos incerteza, possibilidade: “Onde será que fica a tal rua?”, “Será ele quem vem lá?” e "Em que canto Marina estará agora?".
  - Futuro do pretérito ou pretérito simples – O futuro do presente pode ser empregado no lugar do futuro do pretérito ou do pretérito simples para indicar ocorrência futura em tempo passado, como em “Ainda decorrerão dez anos para o jovem príncipe Pedro de Alcântara tornar-se Pedro II” (em vez de decorreriam) e “Paulo começou a trabalhar em 1962 e daí até aposentar-se cumprirá 30 anos na carreira que escolheu (em lugar de cumpriu)”.

Modo subjuntivo
Presente
  Quando indica desejo, substitui a terceira pessoa do imperativo, como em “(Que) Viva o presidente!”, “(Que) Vivam os noivos!”.
 
Infinitivo
Não-flexionado ou impessoal
  Pode ter sentido de imperativo: “Direita, volver!”, “Passar bem” e “Ver a pág. 15”, em lugar de volva ou volvam, passe ou passem, veja.

Leia mais em:
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, § 413.
Nova gramática do português contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, pp. 436 e segs.

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