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Objeto direto preposicionado
Sabemos que objeto direto é o complemento que
se liga ao verbo diretamente, isto é, sem auxílio
de preposição. Assim, em “Devemos
amar nossos semelhantes”, nossos semelhantes
é objeto direto do verbo amar porque
se liga a ele sem a presença de preposição.
Entretanto, às vezes, o objeto direto pode aparecer
precedido de preposição – geralmente,
“a” – sem que isso o transforme em
objeto indireto (complemento ligado ao verbo mediante
preposição). Neste caso, temos o objeto
direto preposicionado, como em “Devemos amar
a Deus sobre todas as coisas”.
“Amar”, no contexto, é transitivo
direto (amar quem? resposta: Deus), mas mesmo assim
apareceu a preposição “a”
(amar a Deus). Há contextos
em que podemos exercer a faculdade de empregar preposição
com verbos transitivos diretos, e outros em que tal
uso é obrigatório. Vejamos como isso se
passa:
Uso facultativo |
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Com verbos que exprimem sentimentos:
“O homem amava aos que o
rodeavam” e “Detesto a
Sujismundo e à sua gentalha”. |
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Nas antecipações do objeto, comuns
em provérbios: "A quinta roda ao
carro não faz senão embaraçar"
e “Ao boi, (pega-se) pelo corno
e ao homem, (pega-se) pela palavra".
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Com certos pronomes: “Ele beneficiava
a todos a sua volta” e "Gato
a quem mordeu a cobra tem medo
à corda". |
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Nos casos de objeto direto constituído de
pronome oblíquo seguido de aposto:
“Os maus ofendem-nos, aos bons,
porque estes os incomodam” e “Seguiu-o, ao
prático, sem o perder de vista”. |
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Como reforço à clareza: “Cumprimentei-o
e aos que com ele estavam” e “Expulsou-o
e aos asseclas”. Sem a preposição,
podemos imaginar ser o segundo elemento do objeto direto
sujeito de algum verbo, que na realidade não existe. |
Uso obrigatório |
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Para evitar ambigüidade, mais precisamente,
para não haver confusão entre o sujeito
e o objeto: “A Felipe Marina contratou”
e “A onça ao caçador
surpreendeu”. Sem a preposição, teríamos
as construções ambíguas “Felipe
Marina contratou” e “A onça o caçador
surpreendeu”. Nelas, não se sabe quem contratou
quem nem quem surpreendeu quem. É claro que a ordem
direta resolve muito bem a dificuldade – “Marina
contratou Felipe” e “A onça surpreendeu
o caçador” –, mas se o escritor quiser
manter a ordem inversa a preposição é
indispensável para a clareza da frase. |
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Quando o objeto direto é constituído
de formas pronominais: “Viu-me e a
si própria refletidos nas águas da
lagoa” e “Escolheu a eles
seus conselheiros”. Note que a preposição
possibilita o pronome reto figurar como objeto direto,
situação normalmente vetada pela norma culta
escrita. Sem a preposição, impõe-se
o pronome oblíquo: “Escolheu-os seus conselheiros”.
Veja ainda que as formas a mim, a si, a nós,
etc. podem, pleonasticamente, reforçar
os objetos representados pelos pronomes me, te, se,
nos e vos, como em “Concluí
que me feri a mim mesmo”
e “Prejudicou-se a si próprio
com o ato”. Como se vê, é também
possível reforço adicional mediante o auxílio
dos demonstrativos mesmo e próprio
com propósito enfático. |
Há casos que provocam divergência entre
autores sobre a ocorrência de objeto indireto
ou direto preposicionado em construções
como “Sacaram das espadas”
e “Puxou do revólver”.
Uma vez que nesses empregos os verbos sacar
e puxar costumam ser transitivos diretos, alguns
pensam, em virtude do uso da preposição,
termos exemplo de objeto direto preposicionado. Contudo,
autores renomados como Celso Luft e Napoleão
Mendes de Almeida entendem tratar-se de objeto indireto
mesmo.
Outra particularidade é a que se refere a verbos
como comer e beber. Em “Maria
Luísa comeu o bolo” e “Helena bebeu
o vinho”, esses verbos são claramente transitivos
diretos e consideramos que os sujeitos consumaram a
ação, ou seja, comeram e beberam tudo.
O que dizer, porém, de “Beatriz comeu do
bolo” e “Salete bebeu do
vinho”? O uso do partitivo altera
o sentido do complemento, de sorte que entendemos haverem
os sujeitos praticado a ação de comer
e de beber não o todo alvo da ação,
mas parte dele. Gramáticos de renome, como Celso
Luft, consideram transitivos diretos os verbos dos primeiros
exemplos e indiretos, os dos últimos, em que
há a presença de preposição.
Finalmente, verbos como provar também
protagonizam situações particulares. Em
contextos como “Provei do pavê”
e “Prove da feijoada”,
o verbo em questão é transitivo indireto.
Ainda segundo Celso Luft (LUFT, 1987), trata-se de objeto
direto cujo núcleo foi omitido e assim “a
preposição introduz o complemento partitivo
de um quantificador zero ou indeterminado – provar
(um pouco) de algo –, que é o núcleo
do objeto direto”. Situação semelhante
à de “Comer ou beber (um pouco)
de alguma coisa”. Tanto assim
é que em “Provei um pouco do suflê”
o verbo é transitivo direto. Repare que dissemos
ser a situação semelhante, mas
não igual: não há alteração
de sentido em “Provar o vinho” e “Provar
do vinho”, ao passo que o sentido
muda de “Beber o vinho” para “Beber
do vinho”. |
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