Infinitivo e pronome oblíquo
Podemos ser tentados a colocar o pronome oblíquo em
orações em que aparece o infinitivo
não-flexionado, como em “Esta receita é
muito fácil de se fazer”. Isto porque o “se”
poderia aí ser classificado como pronome
apassivador, já que a oração equivale
à construção passiva analítica
“Esta receita é muito fácil de ser feita”.
Realmente, essa equivalência existe, mas na verdade
o emprego do pronome, além de desnecessário,
é de fato incorreto. Tal se passa porque alguns verbos
ativos adquirem força passiva quando, no infinitivo,
são antecedidos das preposições a,
de, para e por, principalmente
quando funcionam como complemento de certos adjetivos. Como
exemplos, temos “Há diversas contas a
pagar (a serem pagas)”, “Esta parede foi acabada
de pintar (de ser pintada)”, “Ele
é duro de agüentar (de ser agüentado)”,
“João é osso duro de
roer (de ser roído)”, “O xarope é
difícil de engolir (de ser engolido)”,
“A regra é fácil de aprender
(de ser aprendida)”, “É exemplo para
imitar (para ser imitado)”, “Estas bolsas são
para vender (para serem vendidas)”,
“Todos estes textos estão por
revisar” (por serem revisados)”, “O trabalho
ainda está por terminar (por ser terminado)”,
etc. Observe que em “duro de agüentar”, “difícil
de engolir” e “fácil de aprender”,
por exemplo, de agüentar, de engolir
e de aprender funcionam como complementos nominais
dos adjetivos “duro”, “difícil”
e “fácil”.
Entretanto, há quem discorde da passividade da construção
alegando que o infinitivo, ao complementar o sentido de certos
adjetivos, tem emprego “geral” e não, passivo,
caso em que a voz ativa ou passiva neutralizam-se, conforme
se pode ler em CUNHA, 2000 (veja abaixo).
De uma forma ou de outra, o uso do pronome oblíquo
nessas construções não é autorizado
por nenhum autor. |