Dica n.º 96 - Sexta, 29.11.2002
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A vírgula e a conjunção “e”

De modo geral, não cabe o emprego da vírgula juntamente com a conjunção aditiva “e”, pois nesse caso ambos os elementos estarão funcionando como conetivos no mesmo lugar. Contudo, há casos em que é possível a presença da vírgula juntamente com o “e” e em outros ela não só é possível como necessária. Vejamos alguns deles:

A vírgula indica que a palavra ou expressão que a segue, depois do "e", é sujeito de outra oração, distinto do da oração anterior – Exemplo: “Geralmente, já foram fixados os preços, e as tabelas não podem ser alteradas”. Repare que “os preços” e “as tabelas” são sujeitos de predicados diferentes (foram fixados e não podem ser alteradas). Sem a vírgula, na leitura rápida, pode parecer que se trata de sujeito composto (já foram fixados os preços e as tabelas). Outro exemplo: “Os executivos usam carros da empresa, e microônibus levam os demais empregados ao trabalho”. Neste caso, a ausência da vírgula propiciaria leitura tal que faria com que “microônibus”, sujeito de “levam”, fosse entendido como complemento de “usam”, juntamente com “carros da empresa”. Vírgula obrigatória.
Há intenção de se enfatizarem componentes de série coordenada – Exemplo: “Houve muitos episódios notáveis na Guerra do Paraguai, como Humaitá, e Itororó, e Avaí, e Itá-Ibaté, e Angostura, e outros tão ou mais importantes”. Assim encadeada a série, ressalta-se cada elemento em particular. Vírgula facultativa, na dependência de se querer ou não produzir a ênfase mencionada.
Destaque de oração ou expressão intercalada – Exemplos: “Esse eixo semântico, e trata-se exatamente disso, possui grande generalidade”, “O padre repreendeu, e era perfeitamente o caso, o comportamento impróprio de alguns paroquianos” e “O aluno foi chamado e, aparentando tranqüilidade, apresentou-se ao diretor”. Pode-se retirar a oração ou a expressão encaixadas sem prejuízo do sentido da oração principal. Observe que, como se trata de intercalação, há duas vírgulas, uma antes e outra depois do elemento intercalado. Vírgula facultativa.
Separação de aposto do “e” – Este caso é semelhante ao anterior, mas a particularidade é que se trata de aposto, que nem sempre precisa estar entre vírgulas, como em “Nosso primeiro imperador foi D. Pedro I, o “Defensor Perpétuo do Brasil”. Na hipótese de o aposto ser “interno”, ou seja, não ser seguido por ponto, deve ser ladeado por vírgulas, mesmo que à segunda se siga a conjunção “e”. Exemplos: “Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente eleito, e sua equipe reúnem-se hoje” e “Karl Marx, autor de O Capital, e Friedrich Engels são ideólogos do marxismo”. Vírgula obrigatória.
Vírgula antes do “e” quando a coordenação que o antecede é muito longa – Essa vírgula indica pausa respiratória. Exemplos: “Eliane, Afonso e Wagner fizeram longa viagem até Brasília, e decidiram descansar lá por uns dias” e “Vila Bela da Santíssima Trindade é município localizado no oeste de Mato Grosso, e é ponto de partida para muitas expedições de pesca”. Vírgula facultativa.

Como informação de caráter prático, saiba que se coloca vírgula depois do “e” somente se há intercalação depois dele. Evidentemente, se se trata de intercalação, temos aí duas vírgulas: uma antes e outra depois do elemento ou oração intercalada. Exemplo: “Norma chegou e, exultante, logo foi contando as novidades”. Se também houver intercalação antes do “e”, este ficará entre vírgulas, como em “Renato pediu informações, muito aflito, e, em seguida, dirigiu-se à Prefeitura”.

Leia mais em:
A vírgula, de Celso Pedro Luft.
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, § 950.

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