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Evolução de regências verbais
Todos sabemos que a língua é sistema em contínua
evolução, isto é, transforma-se constantemente.
Cabe aos gramáticos estarem atentos às mudanças
sob pena de se distanciarem cada vez mais da língua viva.
Esse preâmbulo serve para introduzir o assunto que se segue:
a evolução de algumas regências verbais no português
brasileiro. Vejamo-las:
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Aspirar - |
Tradicionalmente, este verbo tem duas regências.
Como transitivo direto, significa inspirar, inalar,
entre outros sentidos: "Ficando aqui, você vai aspirar
muito pó" e "Aspire o perfume por alguns
segundos". Como transitivo indireto, tem o significado
de desejar, ambicionar: "De há muito,
João Carlos aspirava ao cargo" e "Ao
entrar no templo, o neófito aspirava pela luz".
Novidade - Atualmente, gramáticos
e autores respeitados também admitem a regência
direta com o sentido de "desejar": "O que aspiro
é muito mais do que isso" e "Setores oligárquicos
da política aspiram continuar no poder".
Autores renomados em que se encontra esta prática: José
Lins do Rego, Darcy Ribeiro, Gilberto Amado, Viana Moog e Plínio
Salgado. |
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Assistir - |
A regência direta e a indireta implicam
diferença de sentido. A direta atribui ao verbo o sentido
de prestar assistência, assessorar:
"Jorge ficou encarregado de assistir os estagiários"
e "Augusto assistiu o presidente na viagem, não
sem algum interesse". A regência indireta tem o sentido
de ver, presenciar: "Assisti a um
Vasco x Botafogo no Maracanã" e "É preciso
pagar para assistir ao filme".
Novidade - Gramáticos
e autores conhecidos já admitem a regência direta
com o sentido de "ver": "A última partida
do Corinthians que assisti em estádio foi contra
o Brasiliense" e "Não quero assistir
espetáculo de violência". Celso Cunha reconhece
a evolução sintática, e a construção
passiva comprova a transitividade direta: "O jogo foi
assistido por cem mil torcedores" e "O filme foi
assistido por milhões de espectadores em todo o mundo".
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Visar - |
Como os anteriores, este verbo tem também
duas regências: a direta e a indireta. Ao empregar-se
com regência direta, tem, entre outros significados, o
de pôr visto, autenticar: "Preciso
que você vise este cheque" e "Pedi para
visarem o documento". Como transitivo indireto,
significa ter como objetivo, pretender: "Com
isso, eles visavam à desestabilização
do Governo" e "Tais medidas não visam a
melhorar o funcionamento do modelo".
Novidade - Modernamente,
gramáticos e autores de renome admitem a regência
direta também com o sentido de "objetivar",
"pretender", como em "A assembléia visa
alterar o estatuto" e "As providências visam
o fim do conflito". Autores que abonam essa prática:
Antenor Nascentes, Rocha Lima, Celso Cunha, Paschoal Cegalla,
Evanildo Bechara e outros. |
Nota: para evitar problemas com especialistas conservadores,
especialmente em provas e concursos, é prudente empregarem-se
as regências tradicionais.
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