Darmos e dar-mos
Percebe-se em redações, com freqüência, equívoco que se deduz
decorrente do desconhecimento do modo de construção das palavras:
o uso incorreto de -mos. Essa partícula, mais apropriadamente
morfema,
embora pouco usada, resulta da combinação do pronome oblíquo
me (= para mim) com o artigo masculino plural os:
me + os = mos. Assim, se alguém me diz:
“Aqui estão os livros.”, posso responder: “Você poderia dar-mos?”,
que equivale a “Você poderia dar-me os livros?”.
Evidentemente, na língua oral, seria pouco provável depararmos
com esse uso, mas ele é legítimo. O equívoco referido decorre da confusão entre a combinação
que se acabou de descrever e o morfema verbal -mos,
que aparece na flexão dos verbos na primeira pessoa do plural
do infinitivo pessoal ou flexionado. Ao conjugar o verbo “dar”
nessa forma nominal e nessa pessoa, tem-se “darmos”, como em
“É preciso darmos atenção aos questionamentos dos alunos”.
Neste caso, seria descabida a separação “dar-mos”, pois a
partícula “-mos” faz parte do vocábulo, é parte integrante
dele. O inverso acontece com outros pronomes oblíquos, como
-nos (= para nós). Como não integram a forma verbal,
devem ser escritos com o hífen separador: “Torçamos para o
instituto dar-nos (dar a nós) a oportunidade que almejamos”.
Em resumo, em dar-mos, temos duas palavras: o verbo
“dar” acompanhado da combinação “-mos” (o pronome oblíquo
me + o artigo masculino plural os). Em darmos,
temos uma só palavra, o verbo “dar”, flexionado na primeira
pessoa do plural do infinitivo pessoal. O estudo dos pronomes
oblíquos e de sua combinação com artigos contribuirá em muito
para o esclarecimento desta questão.
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