Somente Paulo venceu
a corrida.
Ué, mas “somente” não é advérbio e as gramáticas não ensinam
que o advérbio é palavra que modifica apenas adjetivos, verbos
e os próprios advérbios? Sim, é isso mesmo. Então, como, na
frase-título, o advérbio “somente” está se relacionando com
o substantivo Paulo? Na realidade, os gramáticos têm dificuldade
em classificar certas palavras e a própria Nomenclatura Gramatical
Brasileira, ao reconhecer isso, criou a classe extraordinária
das “palavras que denotam” ou “denotativas”. E denotam o quê?
Denotam, isto é, expressam noções de inclusão, exclusão, designação,
realce, retificação, situação, explanação, etc. Essas palavras
– e também locuções (grupos de palavras) – são muitas vezes
consideradas advérbios, o que não é apropriado, já
que não se referem a adjetivos, verbos ou a outros advérbios.
Na verdade, em certos contextos, não se enquadram em
nenhuma das dez classes de palavras admitidas e são forçosamente
incluídas na classe extraordinária acima referida.
Na análise morfológica,
devem ser consideradas, portanto, “palavras que denotam
inclusão, exclusão ou designação, etc.”. Vejamos essas categorias,
uma a uma:
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Inclusão
– Ainda, além disso, até, inclusive,
também, etc. – “Trabalhamos de graça e ainda nos deixaram com fome.”, “Vendem até a honra.”, “Eu também quero.”. |
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Exclusão
– Exceto, fora, menos, só,
somente, etc. – “Todos estão em dia, exceto o apartamento n.º 404.”,
“O grupo de amigos foi aprovado, menos Oscar.”, “Dos competidores,
só
três permaneceram na prova.”.
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Designação
(ou Indicação)
– Eis – “Eis o campeão.”, “Eis-nos
ainda a lutar contra as desigualdades.”, “Trouxemos o
vencedor da maratona, ei-lo!”. |
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Realce
– Cá, é que, lá, mesmo/mesma,
só, etc. – “Pensei cá
com os meus botões:”, “Nós é
que conseguimos a verba.”, “Foi ela mesma quem fez.”. |
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Retificação
– Aliás, isto é, ou antes, ou
melhor, etc. – “João Paulo é o representante
da bancada, aliás, um dos representantes.”, “Recebeu o crédito em dinheiro, isto
é, parte em dinheiro, parte em títulos.”, “Venha no sábado, ou
melhor, venha amanhã mesmo”. |
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Situação
– Afinal, agora, então, mas,
etc. – “Afinal,
nunca tinham estado naquela situação.”, “Concordo com
você; agora
(= entretanto), é preciso observar certos aspectos.”,
“Mas
o que é isso?!”. |
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Explanação
– A saber, isto é, ou seja, por
exemplo, etc. – “Os signos do Zodíaco são doze, a
saber:”, “O recipiendário, isto
é, aquele
que está sendo recebido na Ordem...”, “Na expressão
‘fazer anos’,
ou seja, aniversariar, o verbo ‘fazer’ tem sujeito.”.
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Em outros contextos, a maior parte dessas palavras e expressões
pode ser encaixada em uma das classes de palavras previstas
na nomenclatura gramatical. Assim, até é nitidamente
preposição em “Fomos até
a praça.”. Cá é claramente advérbio em “Venha cá.”.
Mesmo ou mesma é sem dúvida pronome adjetivo
demonstrativo em “Esta é a mesma
salada de ontem.”.
Uma palavra
sobre o emprego do advérbio na condição de modificador de
substantivo: isto ocorre quando o substantivo assume praticamente
função adjetiva, em casos em que integra predicativo, como
"Ele já é quase rapaz". Repare que
neste exemplo “rapaz”, embora substantivo, está empregado
em função adjetiva, pois se relaciona diretamente com o pronome
“ele”. Nessa condição, ou seja, como adjetivo, pode ter vínculo
com o advérbio. Por fim, ressalve-se que essas considerações
todas têm relação com a taxionomia, isto é, com a classificação
das palavras, área que interessa mais de perto aos especialistas:
lingüistas, gramáticos e professores de Língua Portuguesa.
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