A partícula se: pronome apassivador e pronome reflexivo.
Entre as várias funções do se, estão a de pronome
apassivador e pronome reflexivo. No primeiro caso, ela aparece
em “Dá-se terra = Terra é dada”, “Viu-se um
avião sobrevoando a base = Um avião foi visto sobrevoando
a base” e “Consertam-se telefones = Telefones são consertados”.
Nestes exemplos, os sujeitos são terra, um avião
e telefones, respectivamente, e temos caso de voz
passiva sintética ou pronominal. Exemplos do
“se” na condição de pronome reflexivo: “Brisa olha-se
embevecida no espelho”, “Wagner questionou-se sobre
sua atitude” e “Gabriel pintou-se para a festa na escola”.
Aqui, devemos perguntar: quem Brisa olha embevecida no espelho?
A resposta é: a si própria; quem Wagner questionou sobre sua
atitude? Resposta: a si mesmo; quem Gabriel pintou para a
festa na escola? A resposta: a si próprio. A ação praticada
pelo sujeito reflete-se sobre ele mesmo. Há casos, porém,
em que não fica muito clara a função do “se”, pois tanto a
ação verbal mostra-se reflexiva como a construção encontra
equivalente na voz passiva. Vejamos: “Ademir feriu-se na perna”.
Temos situação ambígua, pois não se sabe se Ademir feriu a
si próprio ou se alguém o fez. Isso fica ainda mais evidente
quando se converte a construção sintética na analítica: “Ademir
foi ferido na perna”. Outro exemplo: “Felipe colocou-se no
centro da sala”. Tal enunciado faz parecer que o “se” exerce
função reflexiva, mas também pode ser entendido como construção
passiva, especialmente se o verbo anteceder o sujeito: “Colocou-se
Felipe no centro da sala”. Esta oração pode também equivaler
a “Felipe foi colocado no centro da sala”, situação em que
parece claro haver sido a ação praticada por terceiros. A
ambigüidade, nesses casos, pode ser desfeita da mesma forma
que em construções nas quais se deseja distinguir o pronome
reflexivo do recíproco: acrescentando-se expressões como “a
si mesmo” ou “a si próprio” e suas flexões, se a voz verbal
for reflexiva. Dessa forma, temos: “Ademir feriu-se a si mesmo
na perna” e “Felipe colocou-se a si próprio no centro da sala”.
Se a voz for a passiva, deve-se, em benefício da clareza,
empregar a forma analítica: “Ademir foi ferido na perna” e
“Felipe foi colocado no centro da sala”.
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