Plural de modéstia
Este é caso de concordância irregular ou ideológica, tecnicamente
denominado silepse
de número”, onde, em vez do pronome eu, emprega-se
nós. Entretanto, não se está referindo a mais de uma
pessoa, senão a uma só. O verbo flexiona-se na primeira pessoa
do plural e assim concorda com o sujeito formalmente plural.
Como, porém, a idéia é a de um só agente, o predicativo
– particularmente o adjetivo e o particípio
– permanece no singular e sua concordância processa-se não
formalmente, mas ideologicamente, como se “eu” estivesse explícito.
É utilizado geralmente por escritores e oradores – principalmente
por políticos – para evitar tom muito personalista no discurso
e fazer parecer que falam não de modo individualista, mas
como expressão da fala coletiva. Exemplos: “Nós estamos satisfeito
com o resultado”, “Sempre fomos exigente com o bom
uso do dinheiro público” e “Prometemos nunca estar envolvido
em nenhum escândalo”. Antigamente, reis e altos dignitários
eclesiásticos também usavam esse recurso, conhecido por plural
majestático. É importante ressaltar que, uma vez feita
a escolha do plural de modéstia, não se pode usar o pronome
“eu” e que os pronomes pessoais oblíquos e os possessivos
devem ser os da primeira pessoa do plural: nos, conosco,
nosso. Assim: “Estamos confiante em nossa
capacidade de atender à expectativa da população, à qual nos
dirigiremos permanentemente para auscultar-lhe a vontade,
blá, blá, blá...”.
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