Dica n.º 55 - Sexta, 10.08.2001
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A sigla como recurso eufemístico  

Já tratamos neste saite da sigla e suas particularidades, no Glossário Gramatical, verbete Sigla”. Vamos abordar agora aspecto ali não contemplado: o do uso da sigla como recurso eufemístico. Sabemos que eufemismo é a figura de linguagem que consiste no emprego de palavras, expressões ou circunlóquios (rodeios de palavras) em lugar de formas lingüísticas cujo significado é considerado indecoroso, desagradável ou ameaçador. Assim, usa-se doente dos pulmões no lugar de “tuberculoso”; mal de Hansen, em vez de “lepra”; deficiente visual, em lugar de “cego”; etc. Para "câncer", há várias expressões, como moléstia pertinaz, mal cruel e prolongado, doença ruim, aquela doença e outras. Com o passar do tempo, os falantes perceberam que, em vez de empregar formas eufemísticas, poderiam utilizar, com menos esforço e o mesmo resultado, siglas formadas pelos fonemas iniciais das palavras ou expressões inconvenientes ou dos próprios eufemismos. Tal uso começou a generalizar-se modernamente, tanto na linguagem escrita como na falada. Assim, temos, entre outros exemplos:

q AVC – Acidente vascular-cerebral. Com origem na linguagem médica, o uso desta sigla estendeu-se para a língua geral.
q BO – “Bom para otário”, expressão corrente entre empregados de farmácias para designar medicamentos que são “empurrados” para clientes inseguros quanto ao que comprar.
q CA – Câncer.
q DA – Deficiente auditivo, expressão, por sua vez, usada eufemisticamente em lugar de “surdo”.
q DM – Deficiente mental, outra expressão eufemística, em lugar de “doente mental” ou “retardado”.
q DV – Deficiente visual, mais uma expressão eufemística, em lugar de “cego”.
q GLS – Gays”, lésbicas e simpatizantes.
q TPM – Tensão pré-menstrual.
q WC – "Water-closet", expressão inglesa, empregada por sua vez em vez de “privada”.

Pelos exemplos acima, vemos que algumas siglas poderiam classificar-se como “eufemismos de segundo grau”, já que as palavras ou expressões que representam são, por seu turno, igualmente eufemismos. É preciso ressalvar, porém, que o exposto acima resulta de constatação empírica, que eventualmente poderá ser objeto de comprovação em bases científicas.


Leia mais sobre eufemismo em:
Dicionário de figuras de linguagem, de Sebastião Cherubim.
Dicionário gramatical da língua portuguesa, de Celso Pedro Luft.
Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida.
Novíssima gramática da língua portuguesa, de Domingos Paschoal Cegalla, edição de 2000, p. 580.

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