Dica n.º 40 - Sexta, 27.04.2001
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Curso a distância ou curso à distância?

Na verdade, o que está em discussão é: ocorre ou não crase nas locuções adverbiais? O tema é bastante controverso e não há acordo entre os autores. Assim, quem escreve deve apoiar-se nos argumentos de algum especialista renomado, quer opte por uma ou outra posição.

Duas correntes posicionam-se:

· a que admite crase nas locuções adverbiais somente se, de acordo com a regra geral da crase, houver emprego do artigo definido "a" ou se houver risco de ambigüidade. Assim, em "Mantenha-se à distância de 30 metros", "Ele passa às vezes por aqui" e "A irregularidade está à vista dos consumidores", percebemos o emprego do artigo "a" e a crase é justificada. Em "Recebeu a bala" e "Já estudei a distância", a clareza está comprometida, pois ficamos sem saber, apenas por essas duas frases ambíguas, se a bala e a distância são objetos diretos ou adjuntos adverbiais, razão por que, neste último caso, deve haver acento grave no "a" dessas locuções - à bala e à distância - para precisar o significado. Entretanto, em "Temos curso a distância nesta escola", "Os policiais foram recebidos a bala" e "Faça a prova a tinta", as locuções assinaladas não recebem acento grave porque aí não há crase, pois o artigo definido feminino não está sendo utilizado. Tanto isso é verdade que se tentarmos substituir os substantivos femininos por outros masculinos não teremos a contração "ao", mas o "a" se manterá, prova de que é simples preposição. Teremos, por exemplo, "Os policiais foram recebidos a pau (e não, ao pau)" e "Faça a prova a lápis (e não, ao lápis)". Além do mais, naqueles dois exemplos, inexiste o risco de ambigüidade.
· a que entende dever haver sistematicamente crase nas locuções adverbiais formadas de palavras femininas sob o argumento da tradição, ainda que tecnicamente não haja razão para tal. Assim, devemos construir "Quase não se escreve mais à máquina", "Você pode emitir o recibo à mão", "Paguei o lote à vista", "Rico ri à toa", etc.

Considero inconsistente o argumento da "tradição". Só isso não constitui justificativa suficiente. O entendimento da primeira corrente mencionada tem mais embasamento lógico e, conseqüentemente, é o adotado por mim. Finalmente, é preciso esclarecer não ser adverbial, mas adjetiva a locução presente no título desta página, pois ela modifica substantivo (curso). Entretanto, as considerações aqui tecidas valem também para ela.


Leia mais em:
Dica n.º 2, neste saite.
Dicionário de questões vernáculas, de Napoleão Mendes de Almeida, verbete "Crase".
Gramática metódica da língua portuguesa, do mesmo autor, § 535.
1001 dúvidas de português, de José De Nicola e Ernani Terra, item "A máquina".
Não erre mais!, de Luiz Antonio Sacconi, p. 354.
Português ao alcance de todos, de Nélson Custódio de Oliveira, item "Crase".

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