Dica n.º 34 - Sexta, 16.03.2001
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Norma culta - Padrão formal vs. coloquial

Norma culta nada mais é do que a modalidade lingüística escolhida pela elite de uma sociedade como modelo de comunicação verbal. É a língua das pessoas escolarizadas. Ela comporta dois padrões: o formal e o coloquial:

· Padrão formal - É o modelo culto utilizado na escrita, que segue rigidamente as regras gramaticais. Essa linguagem é mais elaborada, tanto porque o falante tem mais tempo para se pronunciar de forma refletida como porque a escrita é supervalorizada na nossa cultura. É a história do "vale o que está escrito".
· Padrão coloquial - É a versão oral da língua culta e, por ser mais livre e espontânea, tem um pouco mais de liberdade e está menos presa à rigidez das regras gramaticais. Entretanto, a margem de afastamento dessas regras é estreita e, embora exista, a permissividade com relação às "transgressões" é pequena.
Assim, na linguagem coloquial, admitem-se, sem grandes traumas, construções como "Ainda não vi ele", "Me passe o arroz" e "Não te falei que você iria conseguir?", inadmissíveis na língua escrita. O falante culto, de modo geral, tem consciência dessa distinção e ao mesmo tempo em que usa naturalmente as construções acima na comunicação oral, evita-as na escrita. Contudo, como se disse, não são muitos os desvios admitidos, e muitas formas peculiares da norma popular são condenadas mesmo na linguagem oral. Construções como "Nóis foi na fazenda" (o "na" ainda seria tolerado) e "Ele pagou dois milhão pelos boi" são impensáveis na boca de um falante culto em ambiente culto, pois passam a quem ouve a impressão de total falta de escolaridade de parte de seu autor. Já em ambiente inculto seriam apropriadas: é a história de "Em Roma, como (fazem) os romanos". (Veja também a pág. Você sabia? n.º 25.) Por outro lado, usos próprios do padrão formal empregados na língua oral costumam parecer forçados ou artificiais no falar despreocupado do dia-a-dia e configuram o que se chama de preciosismo. É o caso de, num bate-papo, ouvirem-se certos empregos do pronome oblíquo - "Ainda não o vimos por aqui" -, flexões do mais-que-perfeito do indicativo - "Eu ainda não entrara no Banco quando aquilo aconteceu - e, o que é pior, o uso da mesóclise, como em "Você ver-se-ia em maus lençóis se continuasse a insistir naquilo". Moral da história: assim como se usa traje apropriado para cada situação social, também se use o padrão lingüístico adequado para as diferentes situações de comunicação social.

Leia mais a respeito em:
Ensino da Gramática; opressão? Liberdade?, de Evanildo Bechara, principalmente o capítulo "Gramática e ensino".
Estrutura da língua portuguesa, de Joaquim Mattoso Camara Jr., pp. 9-10.
Manual de expressão oral e escrita, de Joaquim Mattoso Camara Jr., cap. I - "A boa linguagem", item II - Língua oral e língua escrita.
Moderna gramática portuguesa, de Evanildo Bechara, pp. 23-24.
Nova gramática do português contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, pp. 4-8.

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