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Ambigüidade
Ambigüidade é vício
de linguagem pelo qual uma frase é
construída, involuntariamente, com mais de uma
interpretação. (Leia também o verbete
Ambigüidade
do Glossário Gramatical.) Dizemos involuntariamente
porque, em um texto literário, o autor pode deliberadamente
possibilitar mais de uma leitura a determinada frase,
o que deixa de ser vício. Veja este trecho, duplamente
ambíguo, inspirado em artigo de jornal:
"Diretora da Branofol demite filho de Rubens
Galicanto, amigo do senador Carlos Antônio, cuja
ex-mulher o acusa de enriquecimento ilícito".
Desconhecemos quem é amigo do senador: o filho
ou Rubens. Ficamos também sem saber quem a tal
senhora acusa: o filho, Rubens ou o senador. Por outro
lado, a múltipla ambigüidade só não
atinge a "diretora", pois supõe-se
ela não ter "ex-mulher". Se fosse diretor,
teríamos mais um elemento vicioso, em conexão
com "cuja ex-mulher". Resolvemos o problema
conforme o que queiramos dizer:
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Amigo do senador |
Acusado |
Construção |
Filho |
Rubens |
"Diretora da Branofol
demite filho de Rubens Galicanto; aquele, amigo
do senador Carlos Antônio. A ex-mulher de
Rubens acusa-o de enriquecimento ilícito." |
Rubens |
Rubens |
"Diretora da Branofol
demite filho de Rubens Galicanto, este último
amigo do senador Carlos Antônio. A ex-mulher
de Rubens acusa-o de enriquecimento ilícito". |
Filho |
filho |
"Diretora da Branofol
demite filho de Rubens Galicanto. A ex-mulher daquele,
amigo do senador Carlos Antônio, acusa-o de
enriquecimento ilícito". |
Rubens |
filho |
"Diretora da Branofol
demite filho de Rubens Galicanto, este
último amigo do senador Carlos Antônio.
A ex-mulher do primeiro
acusa-o de enriquecimento ilícito". |
Filho |
senador |
"Diretora da Branofol
demite filho de Rubens Galicanto. O senador Carlos
Antônio, cuja ex-mulher o acusa de enriquecimento
ilícito, é amigo do demitido". |
Rubens |
senador |
"Diretora da Branofol
demite filho de Rubens Galicanto. O
senador Carlos Antônio, cuja ex-mulher o acusa
de
enriquecimento ilícito, é amigo de
Rubens". |
É preciso estarmos atentos à construção
de orações para evitar ambigüidades.
Há certas palavras perigosas, com as quais devemos
tomar bastante cuidado para não incorrermos nesse
vício, especialmente possessivos (seu, sua). Em
"Celsinho, a Letícia veio com seu pai",
não sabemos de qual dos dois é o pai. Resolvemos
facilmente o problema dizendo "Celsinho, a Letícia
veio com o pai dela" ou "Celsinho, seu
pai veio com a Letícia", conforme o que pretendemos
dizer. Também merecem cuidado os relativos (que,
cujo), como em "Visitamos a igreja do Carmo, a mais
bonita da cidade, que data de 1735". O pronome relativo
que se refere sempre a um antecedente. Acontece
que aqui temos dois antecedentes expressos: "igreja
do Carmo" e "cidade". Por isso, devemos
evitar colocar mais de um antecedente diante de um relativo
(pronome
ou advérbio).
Desfazemos a ambigüidade da frase invertendo a ordem
das orações e mesmo dispensando o pronome:
"Visitamos a igreja do Carmo - datada de 1735 -,
a mais bonita da cidade" ou "Na cidade - datada
de 1735 -, visitamos a igreja do Carmo, a mais bonita".
A homonímia
e a polissemia
também podem causar ambigüidade: em "Talvez
eu não amasse Cláudia", não
fica claro se a forma assinalada refere-se a flexão
do verbo amar ou amassar. Se a frase "As
mudas chegaram" não estiver contextualizada,
não sabermos se se trata de plantas ou de mulheres
que não conseguem falar. (Ambos, casos de homonímia.)
Em "Acadêmicos viram monólitos",
caso de polissemia, há dúvida se a forma
verbal é flexão do verbo ver ou virar.
A substituição vocabular ou mudança
na estrutura frasal resolverá o problema. O pronome
possessivo seu - e suas variações
- tem vários significados, ou seja, é polissêmico
também. A ambigüidade, juntamente com a obscuridade,
são inimigas da clareza, uma das virtudes da boa
linguagem e necessidade no processo da comunicação.
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