Dica n.º 13 - Sexta, 20.10.2000
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Coloquei mais um link no meu site.

O que acha dessa frase? Possivelmente, você dirá que está tudo certo com ela, tal é sua familiaridade com essa enxurrada de palavras estrangeiras que pipocam nos textos da nossa imprensa - especializada ou não -, não é mesmo?

Pois é, mas vamos aos fatos. Em primeiro lugar, a grafia das palavras no Brasil é regulamentada por lei (Decreto-Lei n.º 2623, de 21.10.55), simplificada pela Lei n.º 5765, de 18.12.71. Dessa forma, o respeito à norma ortográfica oficial é respeito à lei. Em segundo lugar, essa mesma norma disciplina a escrita de nomes estrangeiros - os estrangeirismos ou barbarismos (em sentido estrito) - que, se não forem aportuguesados, ou seja, se não se adequarem à nossa ortografia, devem ser escritos entre aspas ou então sublinhados. Devem, enfim, ser postos em destaque de alguma forma (tipos itálicos, por exemplo). Excetuam-se os já consagrados, como box, watt, show, shopping, etc. (aqui em destaque apenas para melhor visualização). A propósito, box, com significado de "compartimento", permaneceu na grafia original, mas empregada no sentido de "luta com punhos" foi aportuguesada para "boxe" e tem ainda sinônimo vernáculo: pugilismo. Assim, o correto é escrever-se "link", software, upgrade.

O ideal seria que os meios de comunicação - TV, rádio, revistas, jornais e agora a Internet - adotassem postura de defesa da nossa cultura, aí incluída a língua portuguesa. Para isso, procurariam traduzir para o português, quando possível, os nomes estrangeiros que através deles ingressassem em nosso meio. Caso não fosse possível, que pelo menos adaptassem à nossa ortografia essa torrente de palavras estrangeiras, especialmente inglesas.

Não se entende, a não ser em razão de mentalidade colonizada, que a maioria dos estrangeirismos não possa ser traduzida. Para ficar apenas no contexto da Internet: link não poderia ser "ligação" ou mesmo "porta"? Home page não poderia ser traduzida por "página principal" ou "página de abertura"? Browser, não poderia ser "navegador" ou "programa de navegação"? Em vez de download, bem que poderíamos utilizar "baixamento", "descarregamento" ou "descarga". Se alguém objetar que "baixamento" não está no dicionário, pois que se crie essa palavra e se a coloque nele! Banner não poderia ser "faixa" ou "faixinha"? E o que dizer de hit, no contexto da rede? Poderia perfeitamente ser traduzida por "visita" ou "acesso". Lembremo-nos de que file, desde o início da expansão da Informática no Brasil, foi apropriadamente traduzida por "arquivo". Em vez de mandar "e-mail" (abreviação de electronic mail = correio eletrônico), eu bem que poderia mandar uma mensagem ou até, abreviadamente, "msg.", já que é para encurtar... Este trecho, de três linhas, foi retirado de uma revista especializada em Internet: "Às vezes, troca-se links simplesmente, em vez de banners. Por exemplo: você tem um site...". Total desrespeito à norma ortográfica. Que pelo menos se aportuguesem tais palavras. Assim, vocábulos como link viram "linque"; site vira "saite"; browser, "bráuser" e assim por diante. Já não aportuguesamos diskette? E "leiaute", já não foi layout? Quem resiste a isso, deveria continuar a escrever football, goal, penalty, bouquet e carnet, por exemplo.

Não se trata de xenofobia (aversão a tudo que é estrangeiro). Trata-se apenas de defender nossa cultura e conseqüentemente nossa língua dessa invasão desenfreada, que aqui despeja centenas de palavras sem a menor cerimônia, como se o Brasil fosse a "casa-da-mãe-joana". (Na opinião de quem assim procede e com isso concorda, é.) Vamos receber esses empréstimos lingüísticos quando necessário, quando vierem suprir lacunas do idioma e mesmo assim adaptando-os à nossa ortografia. Caso contrário, que fiquemos com as palavras da nossa língua, a qual muito mais autenticamente expressa a cultura brasileira. O Brasil proclamou sua independência política em 1822, mas, na mentalidade de muita gente, ainda somos colônia.

Leia a opinião do professor Domício Proença Filho, membro da Academia Brasileira de Letras, sobre estrangeirismos clicando aqui.


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