Etc.
Quantas vezes você já usou "etc.",
não é mesmo? Vamos, porém, comentar algo
sobre isso.
Etc. é abreviatura da expressão latina
et cetera e significa "e outras coisas",
"e outros (da mesma espécie)", "e assim
por diante". Originalmente, era empregada apenas com
referência a coisas, mas atualmente também se
vê (e pode-se usar) relacionada a animais e mesmo pessoas
que poderiam ser mencionados, mas são subentendidos
em um texto. Assim: "lâmpadas, soquetes, conectores,
plugues, etc.", "cavalos, mulas, jumentos,
etc.", "Zezé di Camargo e Luciano,
Chitãozinho e Xororó, Leonardo, Daniel, etc.".
Com o passar do tempo, ficou obscurecido, para o falante comum,
o significado original dessa abreviatura, especialmente o
fato de ela conter o elemento de ligação "e".
Dessa forma, etc. passou a ser vista como mais um elemento
em uma enumeração, razão por que, conforme
se deduz, o Pequeno Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa (PVOLP) apresenta-a precedida
de pontuação. Esta, contudo, deve ser a mesma
ao separar-se os elementos da seqüência, como nestes
exemplos:
· "Carros, peças,
acessórios, etc."
· "Estava tudo assim
agrupado: cenoura, chuchu, beterraba; banana, laranja, melancia;
feijão, soja e outros grãos; etc."
· "Fiscalizar. Reivindicar.
Protestar. Etc. Tudo isso faz parte da prática
da democracia."
Entretanto, alguns puristas da língua relutam em aceitar
pontuação antes do etc., apesar de esse
uso ser respaldado pelo PVOLP e ser ratificado por respeitados
gramáticos brasileiros, como Celso Cunha e Celso Luft.
Agora, vamos acrescentar mais um ponto polêmico na nossa
discussão. Se, na origem, ficava evidente a presença
do elemento de ligação "e" (et
cetera), que já não é mais percebido,
e se, conseqüentemente, "etc." é vista
apenas como mais um elemento em uma enumeração,
por que nos repugnaria o uso do "e" antes de "etc."?
Portanto: "galinhas, perus, patos e etc.".
Vejamos o caso do pronome comigo, formado de "com
+ migo". Mas o que é esse "migo"? "Migo"
é resultado da transformação fonética
do latim "mecum" (que significava exatamente
"comigo"), onde já estava embutida a preposição
"com" (cum, em latim). O que acontece com
o "etc." aconteceu também aqui: com o passar
do tempo, os falantes não "sentiram" mais
a presença do "com" em mecum e acrescentaram
mais um "com" (cum + mecum > cummecum
> comigo). Daí o vocábulo "comigo",
em rigor, conter dois "com". Da mesma forma, "e
etc." conteria dois "e". Coisas da evolução
da língua. Contudo, é preciso ficar claro que
essa é, por enquanto, apenas opinião pessoal
do prof. Paulo Hernandes. O uso de "e" antes de
etc. ainda não é admitido nas mais conhecidas
gramáticas disponíveis no Brasil. Para finalizar:
vocês se lembram de um famoso jogador de futebol, que,
apesar de não muito bom entendedor do processo etimológico,
disse em entrevista: "Comigo ou sem migo, o time ganha."?
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