Dica n.º 12 - Sexta, 13.10.2000
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Etc.

Quantas vezes você já usou "etc.", não é mesmo? Vamos, porém, comentar algo sobre isso.

Etc. é abreviatura da expressão latina et cetera e significa "e outras coisas", "e outros (da mesma espécie)", "e assim por diante". Originalmente, era empregada apenas com referência a coisas, mas atualmente também se vê (e pode-se usar) relacionada a animais e mesmo pessoas que poderiam ser mencionados, mas são subentendidos em um texto. Assim: "lâmpadas, soquetes, conectores, plugues, etc.", "cavalos, mulas, jumentos, etc.", "Zezé di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó, Leonardo, Daniel, etc.".

Com o passar do tempo, ficou obscurecido, para o falante comum, o significado original dessa abreviatura, especialmente o fato de ela conter o elemento de ligação "e". Dessa forma, etc. passou a ser vista como mais um elemento em uma enumeração, razão por que, conforme se deduz, o Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (PVOLP) apresenta-a precedida de pontuação. Esta, contudo, deve ser a mesma ao separar-se os elementos da seqüência, como nestes exemplos:
· "Carros, peças, acessórios, etc."
· "Estava tudo assim agrupado: cenoura, chuchu, beterraba; banana, laranja, melancia; feijão, soja e outros grãos; etc."
· "Fiscalizar. Reivindicar. Protestar. Etc. Tudo isso faz parte da prática da democracia."
Entretanto, alguns puristas da língua relutam em aceitar pontuação antes do etc., apesar de esse uso ser respaldado pelo PVOLP e ser ratificado por respeitados gramáticos brasileiros, como Celso Cunha e Celso Luft.

Agora, vamos acrescentar mais um ponto polêmico na nossa discussão. Se, na origem, ficava evidente a presença do elemento de ligação "e" (et cetera), que já não é mais percebido, e se, conseqüentemente, "etc." é vista apenas como mais um elemento em uma enumeração, por que nos repugnaria o uso do "e" antes de "etc."? Portanto: "galinhas, perus, patos e etc.". Vejamos o caso do pronome comigo, formado de "com + migo". Mas o que é esse "migo"? "Migo" é resultado da transformação fonética do latim "mecum" (que significava exatamente "comigo"), onde já estava embutida a preposição "com" (cum, em latim). O que acontece com o "etc." aconteceu também aqui: com o passar do tempo, os falantes não "sentiram" mais a presença do "com" em mecum e acrescentaram mais um "com" (cum + mecum > cummecum > comigo). Daí o vocábulo "comigo", em rigor, conter dois "com". Da mesma forma, "e etc." conteria dois "e". Coisas da evolução da língua. Contudo, é preciso ficar claro que essa é, por enquanto, apenas opinião pessoal do prof. Paulo Hernandes. O uso de "e" antes de etc. ainda não é admitido nas mais conhecidas gramáticas disponíveis no Brasil. Para finalizar: vocês se lembram de um famoso jogador de futebol, que, apesar de não muito bom entendedor do processo etimológico, disse em entrevista: "Comigo ou sem migo, o time ganha."?


Leia também em:
Dicionário de questões vernáculas, de Napoleão Mendes de Almeida.

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